Copo de 3: O País do faz de conta... onde rir é o melhor remédio.

28 julho 2005

O País do faz de conta... onde rir é o melhor remédio.

É normal que um Apreciador de vinho, tenha uma maior liberdade de dizer o que pensa disto e daquilo, o que por vezes custa a muitas pessoas dentro do meio, não sei porquê, mas parece que não gostam muito que as suas ideologias sejam tocadas... tal como em muita coisa neste Portugal.

Neste nosso Portugal, onde ainda se vai aprendendo a fazer vinho, obviamente que não é caso geral pois temos Produtores com vinhos de alta qualidade , quando outros Países já estão mais que evoluídos, comparem a idade das vinhas entre um lado e outro, e quando se faz uma pergunta do tipo, Qual a razão dos vinhos serem melhores em Espanha do que em Portugal ? Fica tudo muito ofendido, mas as respostas são sempre poucas.
Para tais pessoas, ainda se vive com a ideia de que o nosso é que é bom e lá fora não se bebe nada de jeito.
Pois, talvez ainda não provaram o que se faz do outro lado da fronteira.
Ainda fazemos de conta que somos os melhores, e que não temos rival.

Mas atenção, temos vinhos de grande nível, isso é uma verdade que ninguém pode negar, e cada vez mais vamos entrando no mercado mundial, lá por fora já se olha para o nosso vinho, os brancos dão que falar, alguns tintos também, mas enquanto colocamos cinco ou seis vinhos no topo, de outros lados aparecem 15 ou 20.
Agora, dizer que temos os melhores vinhos do Mundo, então é de rir e chorar por mais. Como se dizia numa revista da especialidade, somos Campeões de Freguesia.
Principalmente quando se tenta comparar o nosso vinho com o Espanhol, eterno rival, é aí que a coisa dói. Não se pode dizer isto, porque é uma ofensa... mil e um argumentos aparecem logo em cima da mesa, desculpas e mais desculpas... Por alguma razão a Espanha é uma das actuais potências do vinho, e um dos Países que mais tem evoluído na Comunidade Europeia...será das uvas, dos solos, dos enólogos, das barricas, de um maior poder económico, dos malandros dos críticos que dão grandes notas aos vinhos e esquecem os nossos... enquanto eles gozam com o estrelato, nós por cá fazemos de conta que crescemos e que somos bons. Com vinhos de 25 euros que não valem nem 15... mas enfim.
Dói mas é para alguns, para aqueles que tem de defender a sua causa, que para além de triste não passam de Quixotes de La Portugália... Eu como cidadão do mundo não me posso deixar adormecer neste Matrix em que se vive.

Conquistámos um 96 do Sr Parker com um Crasto Touriga Nacional 2001, que neste momento é vendido a 90 euros... o meu argumento pode ser sempre o mesmo dizem vocês, mas quando um Finca Allende 2001 tem 95 pontos do mesmo Sr. e custa 15 euros, não preciso dizer mais nada, neste momento só é enganado quem quer, não que o produtor tenha a culpa, não senhor, mas alguém a tem.

Nesta nossa terra onde se continua em algumas partes a insistir em castas que pouco ou nada melhoram, e em que muitas das vezes os vinhos servem apenas para satisfazer o gosto de um produtor. Esses vinho fazem falta, mas talvez com uma identidade própria e não com uma tentativa de fazer como se faz lá no outro lado.
Como apreciador de vinho acho que muitos dos varietais de castas estrangeiras, passam o limite de caro e que em qualidade pouco ou nada tem comparando com o preço que pedem...
Mas é claro que alguns ainda vão tendo qualidade, mas penso que uma aposta nas nossas castas seria bem melhor, pois ia permitir uma maior evolução das mesmas, e consequente qualidade dos nossos vinhos, mas sem nunca deixar as outras de lado, como é óbvio.

Por outro lado temos umas constantes tentativas de colagem de produtores, a famosas zonas mundiais de produção de vinho. É claro que é sempre bom ter vinhos de qualidade, mas procuro vinhos que tenham a marca da Região onde são produzidos como Douro, Dão... e não quero comprar um vinho de um Bordéus B ou de um Rhones B etc etc... Por que raio temos de comprar um vinho tinto do Alentejo que lembra um Australiano, ou um branco da Estremadura que lembra um Francês ?
Será que eles em Bordéus, ou na Rioja também fazem um tinto a lembrar o Dão ou um branco a lembrar o Douro ? Pois esta é a pequena diferença entre os GRANDES e os pequenos. Se bem que os produtores devem procurar seguir os gostos dos consumidores, não devem ao mesmo tempo esquecer uma imagem e uma identidade que os faz ser diferentes dos restantes.

Mas o pior vem depois, os preços a que os novos vinhos são vendidos, é de loucos. A qualidade está claramente a aumentar nos nossos vinhos, mas atenção que não em todos, e temos muitos vinhos a custar mais do que aquilo que valem... lá está a tal filosofia, se o do meu vizinho custa 30 euros o meu também não é pior.
Produzem 5 mil garrafas e o preço é o mesmo do que se fossem 100 mil, lá estou eu com o exemplo do Alion da Ribera del Duero, mas enfim, o vinho tem 95 Pontos do Parker custa 25 euros e fazem 300 mil garrafas, se quisermos comparar por cá , então o melhor é nem tentar.
É óbvio que o que falha por cá é o pouco volume produzido dos vinhos de gama alta, temos de aumentar este volume para que mais pessoas no estrangeiro os possam provar, não é com produções de 5 mil garrafas ou menos que vamos lá.
Um aumento da qualidade da gama média alta e gama média , seria a meu ver bom para a nossa imagem, pois os episódios que acontecem lá por fora não são nada dignificantes do nosso vinho e do nosso País.

No meio de tudo isto aparecem os críticos, aqueles senhores que passam a vida a provar vinho.
Uns mais profissionais que outros, lá vão ditando suas sentenças sobre este e aquele, o pior é quando dizem: Este não é um vinho consensual pois tanto pode agradar a muitos como ser detestado por outros.
A pergunta a fazer é logo esta: Se eu não gostar do vinho em questão, então não entendo nada disto ?
Engraçado pois a nota, depois é coisa mesmo de grande vinho, pois o crítico mais uma vez, não se separa do seu gosto pessoal (eles bem tentam...)
É neste momento que pensamos, afinal quem tem razão ? O Crítico que prova o vinho e sim senhor, ou o apreciador que paga por vezes uma pequena fortuna pela garrafa e depois diz, «Epa não gosto nada disto».

É este o nosso lindo Portugal, que vai fazendo de conta que tem o que não tem, e que faz falta um grande empurrão para tal evoluir, mas parece que enquanto tal não acontece, rir vai sendo o melhor remédio.

PS: Se alguém por algum motivo não gostou do que leu, então fico feliz porque atingi o meu objectivo...

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