Copo de 3: 2009

28 dezembro 2009

TERRAS DO AVÔ branco 2008

Em prova mais uma "novidade" que nos chega da Madeira, um branco feito de Verdelho da Madeira, talvez o "verdadeiro" Verdelho que nos devemos orgulhar de o ter e que deve ser preservado e divulgado.
Este branco VQPRD Madeirense é produzido na freguesia do Seixal na costa norte da Ilha da Madeira, a partir da casta Verdelho da Madeira. Dá pelo curioso nome de Terras do Avô, e é produzido pela Sociedade Duarte Caldeira e Filhos - Seixal Wines, Lda. Com a enologia a cargo de Paulo Laureano e João Pedro Machado, foram produzidas e engarrafadas 4959 garrafas na Adega de São Vicente, no dia 15-02-2009. Os originais rótulos foram desenhados pelo artista plástico madeirense Marco Fagundes Vasconcelos, com os verdes destinados aos brancos e os vermelhos aos tintos.

TERRAS DO AVÔ branco 2008
Castas: 100% Verdelho Madeirense - Estágio: Inox - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de concentração média/baixa.

Nariz de mediana intensidade, fruta a invocar certa dose de tropicalidade, toque vegetal fresco, conjunto algo contido que se mostra em ambiente fresquinho com mineralidade ligeira e a fazer-se sentir em fundo.

Boca com entrada a mostrar uma fruta assente na tropicalidade e que se mostra bem presente, bom na estrutura, corpo mediano em sintonia com a prova de nariz. Bom equilíbrio entre fruta e acidez, poderia apresentar um pouco mais de largura e comprimento em boca. Final mediano com recordação mineral.

Uma estreia muito simpática e direi mesmo, promissora. Apesar de bem feito e do prazer que deu e dá durante a prova, o único senão é mostrar-se algo contido, quer na forma como se expressa a nível de aromas quer na forma como se comporta na boca. A temperatura de serviço recomendada para , os 10/12ºC, mostra-se perfeito para acompanhar umas ameijoas ao natural. O preço recomendado ronda os 10€. 15,5 - 89 pts

26 dezembro 2009

Quinta da Murta Clássico 2007

Entrando em jeito de conclusão das provas efectuadas aquando da visita à Quinta da Murta (Bucelas), falo do topo de gama da casa no que a vinho branco diz respeito. Este é o Quinta da Murta Clássico, um branco que se tornou uma autêntica lufada de ar fresco e que destaco como das boas surpresas do ano, vindos ali de Bucelas, não por ser novidade mas porque ainda não tinha tido contacto com a nova versão do Fermentado em Barrica deste mesmo produtor.

Quinta da Murta Clássico 2007
Castas: 100% Arinto - Estágio: 3 meses com batonage em carvalho françês e americano - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com leve apontamento dourado.

Nariz com aroma a mostrar uma boa complexidade, nota-se uma barrica a envolver os citrinos bem frescos e maduros, onde ressalta de imediato um aroma a fazer lembrar broas de canela, com alguma baunilha à mistura. Segundo plano com vegetal fresco/talos cortados, flores brancas, mel e mineralidade em fundo com uma sensação de frescura.

Boca com acidez bem presente, citrinos vivos e frescos em boa espacialidade de conjunto. A madeira onde descansou, confere-lhe mais volume que o apresentado pelos outros brancos da Quinta da Murta, apresentando-se também com um leve polimento e ligeira sensação de untuosidade, mas não o suficiente para lhe tirar qualquer vivacidade, sendo no final de pendor seco, fresco e mineral.

Pelo bom potencial de envelhecimento que mostrou com as colheitas anteriores colocadas em prova, direi que é vinho que se pode consumir com todo o prazer desde já, ou ir apreciando e acompanhando a sua evolução ao longo dos próximos anos. O preço ronda os 15€, que não sendo barato se mostra adequado à qualidade apresentada. É de aproveitar e ir comprar no produtor que fica quase sempre mais em conta, vale a pena ir visitar a Quinta da Murta, provar e comprar in loco os vinhos aqui falados e provar as novidades. Um vinho para os tempos mais frios, que namora bem com um peixe no forno. 16,5 - 91 pts

21 dezembro 2009

FELIZ NATAL

O Copo de 3, deseja a todos os leitores deste espaço e respectivas famílias, um Santo e Feliz Natal.

17 dezembro 2009

Quinta da Murta branco 2008

No seguimento da prova realizada durante a visita à Quinta da Murta (Bucelas), o próximo vinho de que irei falar é o Quinta da Murta branco, do qual tive a oportunidade de provar as colheitas de 2005, 2006, 2007 e 2008, em que apenas irei destacar 0 2008 e o 2005.
Este branco é um 100% Arinto, apenas com passagem por cuba de Inox, que é sem dúvida alguma a melhor maneira de sentir a pureza da casta sem as intromissões da madeira. Na verdade a casta Arinto não é uma casta muito expressiva, embora com elevada acidez e de acentuada mineralidade no seu perfil. É devido à sua alta acidez que muitas vezes a encontramos a fazer parte do lote de muito vinho branco, quer no Ribatejo ou no Alentejo onde faz par muitas das vezes com a Antão Vaz. Mas é em Bucelas que a casta Arinto tem fama e tem proveito, embora os brancos desta região andem meio esquecidos pelos consumidores que se dizem "mais atentos".

Quinta da Murta branco 2008
Castas: 100% Arinto - Estágio: n/t - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de baixa concentração com retoque esverdeado.

Nariz de perfil fresco, tem a fruta madura bem presente a lembrar citrinos (lima e limão) seguida de vegetal (talos frescos e ripados) e leve floral em fundo marcadamente mineral.

Boca de estrutura média/baixa, mas com acidez que se mostra com vivacidade e cítrica, sentindo-se a fruta fresca e que vai no sentido da prova de nariz. O vegetal marca novamente presença, a servir de acompanhamento à fruta, num vinho de perfil seco e com fundo mineral, em persistência final média.

É um claro exemplo de vinho branco para acompanhar peixe e marisco, servido à temperatura que merece e de preferência durante os tempos mais quentes. Tem a mais valia de que se aguenta bem em garrafa, tem matéria para tal, o que se vai poder constatar com a prova do 2005.
15,5 - 89 pts

Quinta da Murta branco 2005
Castas: 100% Arinto - Estágio: n/t - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com leve nuance dourada.

Nariz com aroma centrado nos citrinos, vegetal já não tão fresco e com alguns toques secos, sente-se um ligeiro rebuçadinho de limão, desperta certa untuosidade com fruto seco pelo meio e a tal mineralidade que lhe fica tão bem no fundo. Refinou muito ligeiramente com o tempo em garrafa, perdeu em fulgor e mostra agora tudo um pouco mais cansado de estar ali, a fruta começa a perder frescura e ganha leve doçura, entram frutos secos, o vegetal perde frescura... a idade tem destas coisas.

Boca com acidez presente, fruta a mostrar boa frescura com limão e lima, mineralidade sentida, algum arredondamento de conjunto a meio palato. Boa intensidade, final de boca de boa persistência com leve limonado.

Não há duvidas que se aguentou bastante bem com a passagem de 4 anos em garrafa, apesar de se notar já o curvar da idade, mas como na altura da prova se discutiu, a casta não dá para muitas complexidades ou exuberâncias, tem acidez suficiente para evoluir durante algum tempo em garrafa, ganhando algumas nuances e perdendo outras. Um vinho a passar a fase adulta , a dar desde já uma prova bem prazenteira. 15 - 87 pts

16 dezembro 2009

Quinta da Murta fermentado em barrica 2003

Foi a convite do enólogo Hugo Mendes, que visitei recentemente a Quinta da Murta (Bucelas).
A Quinta da Murta é uma propriedade vinícola com 27 hectares, situada a 2,5 km de Bucelas e aproximadamente 20 km a norte de Lisboa. A propriedade possui 14,5 hectares de vinha, implantadas a 250 metros de altitude nas encostas do vale da ribeira do Boição, onde beneficia de solos, exposição e de microclima com características próprias. São constituídas por encepamentos das castas Arinto, Rabo de Ovelha, Touriga Nacional e Syrah, produzindo vinhos brancos DOC Bucelas e tintos Regional da Estremadura. A primeira colheita data de 1994. A Quinta está inserida na Rota dos Vinhos, constituindo também um destino de turismo rural, nas vertentes de provas, vendas de vinho e eventos, oferecendo um enquadramento paisagístico de belo impacto.
Após uma visita bastante animada pelas instalações, sempre acompanhado pelo Hugo Mendes, jovem dinâmico e bastante apaixonado em fazer e mostrar o que faz, que no final da visita tinha já preparada uma prova alargada tanto em referências da casa, como espaçada em várias colheitas. Que melhor maneira de verificar o comportamento de cada marca ao longo do tempo senão esta, e da qual resultaram algumas notas de prova que irei colocar aqui. Agradecer em meu nome e da minha mulher, pela simpatia e atenção prestada. Em jeito de conclusão, no geral pode-se afirmar que o peculiar terroir que ali encontrámos se manifesta tanto nos brancos como nos tintos, notando-se nos brancos um perfil mais seco, fresco, limonado e com ligeira austeridade mineral em fundo, enquanto os tintos mostram uma Touriga Nacional menos expressiva, coesa e de abordagem menos fácil que tantas outras que por aí andam, mas com igual pendente mineral em fundo. São vinhos com identidade bem marcada, à espera de serem conhecidos aqui mesmo ao virar da esquina.

Quinta da Murta fermentado em barrica 2003
Castas: Arinto - Estágio: barricas novas carvalho francês durante 3 meses, com batonage - 12% Vol.

Tonalidade amarelo dourado de média concentração.

Nariz a mostrar aroma com evidentes notas de evolução, toque petrolado ligeiro, envolvente na calda/melado e fruta cristalizada, sensação de untuosidade com frutos secos torrados. Fruta ainda com alguma vivacidade, sente-se frescura, citrinos (limão, lima), flores brancas, tudo muito arranjadinho numa fina complexidade, com toque mineral de fundo.

Boca com acidez bem presente logo na entrada, o vinho tem uma boa sensação de untuosidade que se conjuga com fruta a lembrar limão, floral e fruto seco. Mostra-se de corpo mediano e fresco, fina complexidade e secura, num final longo e marcadamente mineral, estando em plena sintonia com a prova de nariz.

Já tinha tido o prazer de o provar, voltei a encontrar-me com ele e ainda bem. Arriscaria a dizer que é dos melhores exemplares que provei, com idade, da região de Bucelas, um vinho ainda com vivacidade tanto de acidez como da fruta. O tempo fez-lhe maravilhas, lapidou-o e deu-lhe outros encantos que fizeram as minhas delícias durante a prova. Poderia aguentar mais algum tempo em cave, mas é nesta altura que o vou querer aproveitar com um pargo assado no forno. 16 - 90 pts

15 dezembro 2009

Adega de Vila Real Grande Reserva 2007

Podia falar deste vinho como um Grande Reserva branco que foi produzido na Adega Cooperativa de Vila Real (Douro), mas não. É que depois de se ter caído no exagero de dizer à boca cheia que tínhamos por cá o "melhor tinto do mundo" proveniente ali dos lados de Palmela, eis que a parelha não podia ficar desfalcada e rapidamente se encontrou em mais um dos tais concursos, talvez até tenha sido no mesmo, o "melhor branco do mundo". Embora este campeão por mérito próprio não tenha sido afectado pela onda especulativa como o seu camarada tinto, a verdade é que voltou a aparecer em tudo o que é comunicação social como "o melhor branco do mundo é nosso" e vem ali da Adega Cooperativa de Vila Real.
Não querendo tirar mérito ao vinho em causa, vencedor do Concurso Mundial de Bruxelas na categoria de Best White Wine 2009. Isto vale o que vale e não deixa de ser um concurso com mais ou menos prestigio, isso agora cabe a cada um decidir, mas ao menos naquela prova foi o que se porto melhor ou foi mais ao gosto dos que o provaram.
Chega a altura de ver se o vinho em causa é mesmo o melhor branco do mundo, ou é apenas e só o vencedor da sua categoria num concurso realizado em Bruxelas.

Adega de Vila Real Grande Reserva 2007
Castas: Viosinho, Malvasia Fina e Fernão Pires - Estágio: passagem por madeira - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com toque dourado de mediana concentração.

Nariz de mediana intensidade, revelador de uma barrica com peso suficiente para tapar grande parte da exuberância da fruta. Mostra sensação de untuosidade, baunilha duracell e torrada com manteiga, o suficiente para saturar ligeiramente na prova de nariz. A fruta meio atordoada mostra-se fresquinha com toque tropical (ananás) e citrinos (limão, laranja, toranja) meio em calda, talos verdes e flores, depois vem a madeira e manda tudo recolher que já é hora.

Boca entra gordo com mediana espacialidade e frescura ligeira, quase que limonado, fruta aqui um pouco mais presente, com leve toque melado. Parece perder-se nos fundos, dando a sensação que o próprio vinho não conhece os cantos à casa, onde mostra novamente alguma fruta branca (melão). A precisar para o meu gosto, de um pouco mais de vivacidade e harmonia entre madeira/fruta/acidez.

Um vinho que mais parece um TGV anafado a passar na boca, entrada com algum peso e vagueia ao lado de uma brisa fresca mas quando o queremos apanhar, já não está lá. Peca na falta de identidade, não gostei de me sentir tapado pela madeira, nem de sentir a fruta sufocada por aquelas baunilhas teimosas. Talvez um pouco mais de vivacidade na boca, e acima de tudo um pouco mais de entusiasmo na forma como se mostra. Não desgostei, até porque é daqueles vinhos de fácil agrado pois de tanto retoque, acaba por apelar à gulodice. Está claramente fora do patamar do melhor branco do mundo, ou mesmo dos melhores brancos de Portugal. Nota curiosa para o facto de 2 semanas depois de ter aberto a garrafa, o vinho que ainda restava tinha exactamente o mesmo aroma a baunilha que quando foi aberto. 15 - 87 pts

11 dezembro 2009

QUINTA DOS ROQUES RESERVA 2005

Cada vez mais me afasto de tudo o que é vinho pastoso e mandrião, vinhos que acabam por ficar na garrafa após um jantar de amigos, porque não se consegue beber mais do que um copo... fartam, enjoam, enchem, saturam. Do outro lado moram os vinhos elegantes, frescos, apelativos, vinhos com quem dá prazer estar e partilhar com os amigos, essencialmente são aqueles vinhos que nos tratam bem durante toda uma refeição, que ligam bem com comida, que em variados locais são apelidados de vinhos gastronómicos.
Os vinhos da Quinta dos Roques (Dão) são um claro exemplo do que falo e enquadram-se perfeitamente no conceito de vinho gastronómico, um conceito que define à partida a qualidade de um vinho, ou dá ou não dá, e os da Quinta dos Roques Dão todos. Conheci estes vinhos, graças a um grande amigo e companheiro de blogosfera (Pingas no Copo), nascido e criado na da dita região e que tanto defende os aromas e sabores da terra que o viu nascer, foi com ele que fui conhecendo um pouco melhor os primeiros vinhos dos novos produtores que dali iam surgindo. Passados todos estes anos, o bichinho ficou, e a Quinta dos Roques é um dos produtores que faz as minhas delícias à mesa, e nada melhor para acompanhar uma Chanfana de Vitela que este Quinta dos Roques Reserva 2005... e tão bem que se deram:

Quinta dos Roques Reserva 2005
Castas: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz, Jaen e Tinto Cão - Estágio: 14 meses em barricas carvalho francês de 1º e 2º ano - 14% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração mediana.

Nariz ligeiramente fechado de inicio, ganha com algum tempo no copo, mostrando uma boa complexidade de conjunto. Sente-se um vinho fresco, com notas de vegetal seco (mato, esteva), flores, algum balsâmico e toques de fumo, fruta (cereja, groselha preta, amora) bem madura e de qualidade com ligeiro toque a licor de cereja. Madeira a mostrar uma boa integração no conjunto, com leve especiado no final, em perfil elegante e fresco.

Boca a revelar entrada fresca e estruturada, fruta madura bem presente, tal como a frescura que envolve toda a prova do princípio ao fim. A passagem é bastante agradável e harmoniosa, com a madeira por onde passou, a conferir a harmonia necessária e calma necessária ao conjunto; especiaria, cacau e algum mato seco complementam o final de boca, em boa persistência.

É um belíssimo exemplar dos vinhos do Dão, sem máscaras nem tiques de pop star. Aqui tal como noutros exemplares da região respira-se qualidade e acima de tudo identidade. Se a qualidade é um pouco mais fácil de encontrar, a identidade cada vez mais aparece transfigurada à medida que os progressos enológicos tomam conta da cabeça dos produtores... será isto o preço a pagar pelo progresso ? Ainda bem que nem todos caminham pelos mesmos trilhos e que nos dias de hoje me continuo a deliciar com vinhos como este Quinta dos Roques Reserva 2005. O preço ronda os 25€, e a longevidade em cave está assegurada. 16,5 - 91 pts

ESPORÃO RESERVA 2007

Depois de já aqui ter falado do Esporão Reserva branco 2008 e do Esporão Private Selection branco 2008, é altura do Reserva tinto 2007.
Marca de enorme consistência, surgiu na década de 80 e tem vindo cada vez mais a conquistar um lugar muito próximo junto ao copo do consumidor. Tanto o Reserva tinto como o branco, são vinhos que não deixam indiferente quem a eles se aproxima e prova, são vinhos que gozam de uma das melhores relações preço/qualidade do mercado nacional e que deveria ser olhados por muitos com a devida atenção. Agora com nova roupagem, pode-se dizer que muda por fora mas continua igual por dentro.

Esporão Reserva 2007
Castas: Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet - Estágio: 12 meses em barricas de carvalho Americano 70% e Francês 30%. Após o engarrafamento seguiram-se mais 12 meses de estágio em garrafa. - 14,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz com a madeira por onde passou a fazer-se sentir, mas sem exageros, envolvente na baunilha, tosta, fumo, tudo a levar-nos no sentido de uma boa integração com o conjunto. A fruta (framboesa, amora, ameixa) mostra-se bem madura e fresca, alguma geleia e toque floral, vegetal seco, mostrando um conjunto de boa complexidade com uma boa dose de frescura que lhe enche a alma.

Boca a mostrar um vinho estruturado, com frescura a interligar a fruta e a madeira, sentindo-se ao mesmo tempo aquele aconchego temperado da planície Alentejana. A fruta aparece na forma que mostrou no nariz, compotada, fresca e de grande qualidade, num segundo plano marcado por alguma secura, que irá ao lugar com algum tempo de garrafa, direi mais 1 a 2 anos.

Um Esporão Reserva de encher as medidas a qualquer apreciador de bom vinho, muito bem feito, bastante apelativo, com uma madeira muito bem trabalhada e que apesar de uma piscadela de olho a um perfil mais actual, não deixa de ser uma compra bastante acertada, principalmente quando o Natal está à porta e não se pretende gastar muito dinheiro no vinho da consoada, ronda os 16€ em grande superfície comercial. 16,5 - 91 pts

25 novembro 2009

Portalegre 1996

Num daqueles momentos de limpeza da garrafeira dou com vinhos que não provava faz algum tempo, vinhos que foram deixados a dormir e que a azafama de provar o que vai saindo no mercado, faz com que me vá "esquecendo" de algumas garrafas. Por um lado isto permite que alguns vinhos afinem o que têm a afinar, mas por outro lado, o tempo que damos a mais pode ser demasiado.
Desta vez virei-me para a Serra de São Mamede (Portalegre), mais propriamente para a Adega Cooperativa de Portalegre, bem famosa pelo seu Portalegre tinto, que tantas alegrias deu e tem dado (agora um pouco menos).
Não deixa de ser estranho que uma Cooperativa que não faz muito tempo, comemorou o seu Cinquentenário, os vinhos mais falados e elogiados são os da década de 90, sendo o primeiro que me lembro ter bebido o de 1990. Ora antes disso já tínhamos no mercado vinhos desta Cooperativa, já tínhamos o Portalegre tinto que ostentava o nome Reserva em garrafa Borgonhesa, e que era consistente nos prémios que ia recebendo. Onde andam ? Quem provou ? Será que não há nenhum exemplar anterior a 1990 que seja digno representante do que de melhor se faz na zona de Portalegre ?
Enquanto procuro respostas a todas estas questões, partilho a nota de prova do Portalegre 1996, um ano menos bom para a Cooperativa que tinha ganho a Talha de Ouro em 1995 e repetiria em 1997.

Portalegre 1996
Castas: Aragonês, Grand Noir, Periquita e Trincadeira - Estágio: n/d - 13% Vol.

Tonalidade a dar sinais da passagem do tempo, ruby escuro com rebordo atijolado.

Nariz marcado por alguns aromas terciários, com a fruta (ameixa, framboesa) a mostrar-se com alguma frescura e harmonia com o restante conjunto. Toques de compota fresca, esteva, leve bálsamo vegetal, especiaria, folha tabaco, e aroma que recorda móvel antigo, com fundo a mostrar leve terroso.

Boca de entrada fresca com harmonia e frescura, em corpo mediano, mostrando alguma delicadeza no trato. A fruta mostra ainda algum vigor, o suficiente para não lhe apagar a chama. Envolvente, complementa a prova de nariz, sedoso e pronto a ser consumido, em final de boca de média persistência.

Em boa hora me chegou ao copo, mostrando-se numa forma bem satisfatória, embora longe da performance que o 95 ou 97 mostram por esta altura. É um vinho onde se faz notar a passagem do tempo, mais calmo, mais sereno, com a plaina temporal a afagar aromas e sabores, perdendo volume e vigor, ficando inevitavelmente mais "liso". Ainda se pode encontrar à venda, e a última vez que o vi custava cerca de 14€. Foram engarrafadas 22.948 garrafas das quais esta é a 04915.
16 - 90 pts

23 novembro 2009

Paço dos Infantes 1982 / Vila Santa 1992

João Portugal Ramos licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia. Estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos, após o que iniciou em 1980, no Alentejo, a actividade de enólogo-gerente da Cooperativa da Vidigueira. Sairia passado pouco tempo, passando ainda pela produção de azeite em 1982, ano em que iria ganhar o prémio de Melhor Vinho na Produção, com o tinto Paço dos Infantes 1982.
A partir da experiência acumulada, João Portugal Ramos constituiu a sua primeira empresa Consulvinus no final da referida década com o objectivo de dar resposta às inúmeras solicitações de vários produtores, Tapada do Chaves, Cooperativa de Reguengos, Quinta do Carmo, Cooperativa de Portalegre. A partir de 1989, a Consulvinus alargou a sua actividade para além do Alentejo, chegando ao Ribatejo, Península de Setúbal, Dão, Beiras, Estremadura e Douro.
Em 1990, João Portugal Ramos plantou os primeiros cinco hectares de vinha em Estremoz, onde vive desde 1988, dando início ao seu projecto pessoal. O emblemático Vila Santa nasce em 1991, nos anos que se seguiram o vinho foi elaborado em instalações arrendadas, sendo 1997 o primeiro ano em que foi vinificado nas novas instalações. A construção da adega em Estremoz, no Monte da Caldeira, iniciou-se em 1997, tendo sido ampliada em 2000.
O sucesso e os prémios acumulados pelos "seus" vinhos ao longo da sua carreira valeram-lhe o reconhecimento nacional e internacional como um dos principais responsáveis pela evolução dos vinhos portugueses.
Em prova dois dos vinhos que de certa forma marcaram o percurso de um dos grandes enólogos de Portugal, o Paço dos Infantes 1982 e o Vila Santa 1992.

Paço dos Infantes 1982
Castas: n/d - Estágio: n/d - 12,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro vivo e limpo com ligeiro toque acastanhado no rebordo.

Nariz onde a fruta que aparece, ainda carrega alguma dose de frescura, a suficiente para dar alguma vivacidade ao vinho. Em perfil de fina complexidade e cheio de bons modos, onde todo o bouquet se enquadra numa moldura de madeira muito fina, com toques de caruma, pimenta, folha de tabaco, com o travo morno do cacau e o suave adocicado da ameixa passa.

Boca a mostrar-se com bom corpo, sedoso na boca, com aquela frescura que não esperávamos encontrar passados 27 anos. Fruta ainda com algum sumo/vigor, especiaria, bombom de ginja, toque de balsamo vegetal em segundo plano. Uma valente surpresa a prova que proporciona, num completo entendimento e mesmo complemento do encontrado na prova de nariz, em final de persistência média.

Não passam despercebidos os 12,5% Vol. com que se apresenta, a mostrarem que são mais que suficientes para que um vinho sobreviva longos anos sem grandes mazelas. É sempre um prazer reencontrar um velho conhecido, talvez dos primeiros vinhos que tive a oportunidade de provar enquanto me iniciava nestas andanças dos vinhos, perdi-lhe o rasto e tornei a encontrar-me com ele. Os sinais da idade estão presentes, como em todos nós, mas o traços gerais pelo qual o conhecia, esses não mudaram.

Vila Santa 1992
Castas: n/d - Estágio: n/d - 13% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média com rebordo acastanhado.

Nariz a dizer que por ali o melhor já passou, é caso para dizer que se chegou tarde ao apelo que vinha fazendo faz alguns anos. Ainda que com alguma compostura o vinho mostrou sinais de cansaço, os aromas começam a perder frescura e a ficar predominantemente secos e moribundos, a fruta perde vigor... De tudo isto resulta um conjunto algo baralhado, confuso, com notas de verniz, barro seco, couro, ameixa seca, pimenta, e alguma fruta o suficientemente fresca para se fazer notar. Caindo claramente nos aromas terciários, não será certamente esta a prova que se esperava.

Boca um pouco melhor que no nariz, com leve frescura, pimenta preta, cacau, couro, tabaco. Gostei bem mais da frescura que apresenta, dando uma passagem de boca sedosa e harmoniosa, embora sem grande concentração ou espacialidade. Fino e harmonioso dentro do que a idade, neste caso, o permite.

Será que a garrafa não estava nas melhores condições ? Ao que respondo após recente prova que o vinho se mostrou bem melhor. No entanto seria um vinho de segunda colheita, a primeira terá sido em 1991.

19 novembro 2009

ROMA PEREIRA 2005

O vinho de que agora falo não é uma novidade, até já deve ter nova colheita no mercado, o que não invalida que não seja um dos vinhos que mais atenção me tenha despertado. Sempre gostei de ser surpreendido, gosto quando a atenção é presa por algo inesperado e que em pensamento nos leva a dizer... gosto disto. Este é daqueles que gosto, que me dá prazer beber e partilhar com os amigos, é um vinho de convívio, um Alentejano proveniente da zona de Mora, do produtor Horta de Chaves em homenagem ao apelido do avô do actual proprietário da Quinta.

ROMA PEREIRA 2005
Castas:Aragonez, Alfrocheiro Preto, Syrah e Castelão
- Estágio: 12 meses em carvalho francês e 6 meses em garrafa - 12,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz essencialmente fresco e elegante, boa intensidade, fruta madura (amora, groselha, framboesa) e notas florais que se misturam com leve baunilha. Desenvolve juntamente com vegetal em segundo plano, aromas de especiarias, compota fresca, tabaco e café, num todo muito equilibrado, bálsamo vegetal com tudo muito bem integrado. Nada cansativo na maneira como se mostra, conquista pela frescura e harmonia que transmite.

Boca com fruta, especiaria, vegetal e alguma tosta, em conjunto fresco e de média espacialidade. Tudo muito bem organizado, estruturado, macio, elegante e com final de boca de boa persistência. Sente-se a fruta bem envolvida pela madeira, em conjunto sem cansar onde a frescura marca boa presença, tornando o vinho bastante apelativo.

Um vinho a que poucos lhe ficam indiferentes, devido à maneira fresca e ao mesmo tempo envolvente com que se mostra. São 7000 garrafas com preço entre os 18/22€. Relembro que apenas tem 12,5% Vol, sim é possível nos dias que correm produzirem-se vinhos tintos com essa graduação, mesmo quando alguns dizem que os tempos quentes não o permitem... enfim. Este Roma Pereira mostra um Alentejo mais fresco, onde a barrica presente mas discreta, dá lugar à expressão da fruta de qualidade. Uma compra obrigatória para quem gosta de bom vinho. 17 - 92 pts

10 novembro 2009

DOM RAFAEL 1993

Revolvendo caixas num armazém, encontram-se por vezes vinhos que em desespero nos chamam. É daqueles apelos que não consigo dizer resistir, ainda por mais quando a curiosidade e o risco que gosto de correr quando compro vinhos com alguma idade, é sempre seguido de momentos de emoção durante a sua prova... correndo bem ou mal, mas esse gozo ninguém me tira. Foi com um enorme sorriso que resgatei duas garrafas de Dom Rafael da morte certa ditada pela solidão, a primeira já foi colocada em prova e data de 1996, a segunda é esta e data de 1993. A marca Dom Rafael lançada em 1990, é a segunda marca da Herdade do Mouchão e o seu nome homenageia um dos primeiros proprietários da Herdade, Dom Rafael.

Dom Rafael 1993
Castas: Alicante Bouschet , Trincadeira, Aragonês e Periquita - Estágio: 1 ano barrica de carvalho com mais 6 meses em garrafa. - 12,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração mediana com rebordo atijolado.

Nariz já com marcas do desgaste do tempo, a mostrar uma ligeira frescura com balsâmico (eucalipto) suave, a envolver a fruta (framboesa, ameixa, bagas) com alguma fruta passa. Tem toques de vegetal seco, "móvel antigo" , cacau e especiarias (cravinho, pimenta), com ligeiro terroso pelo meio.

Boca a mostrar-se com fruta (framboesa, ameixa, bagas) presente mas sem grandes alaridos, calma e serena, banhada por uma frescura leve e bem agradável, que se junta a bálsamo vegetal, tabaco e alguma especiaria. Surpreendeu pela ligeira vivacidade da fruta e pela frescura que lhe confere ainda alguma genica.

Foi uma boa surpresa, não esperava "tanto" por tão pouco, afinal custou uma ninharia, 3€, e o prazer da descoberta e da prova foram bem superiores. Mostrou-se melhor que o 1996, apesar de não estar no melhor momento da sua vida, já o teve... Resta portanto ir usufruindo do que resta dele, que a prova está agradável. Destaque para a graduação 12,5% Vol. o que nos dias de hoje é visto como uma miragem nos rótulos, o que por mais que uma vez me leva a questionar se se o tempo quente é exclusivo de agora ? Faz 10 ou 20 anos atrás o tempo era assim tão diferente do que é hoje ? 14 - 85 pts

DOM RAFAEL 1996

Deste vinho já tinha provado garrafas bem melhores, ou a quando do seu lançamento ou mesmo durante os anos seguintes. Passados tantos anos voltei a encontrar o dito à venda, o preço convidativo fez com que tentasse a minha sorte novamente, o ano até nem era mau de todo para o produtor, deu origem ao primeiro Tonel 3/4 da casa. A prova foi com amigos da causa, não cativou nem deslumbrou, apesar da fina complexidade deu sinais que tudo começa a murchar, a perder a sua energia vital. Naquela noite foi apenas mais um, acabou cansado e de cabeça baixa encostado ao fundo da mesa, enquanto outros faziam a festa.

Dom Rafael 1996
Castas: Alicante Bouschet, Trincadeira, Aragonez e Periquita - Estágio: - 12,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de média concentração e rebordo atijolado.

Nariz delicado, onde os aromas terciários ganham por maioria. Toque de couro, folha seca de tabaco ao mesmo tempo que fruta (ameixa, framboesa), com passa e cacau, especiarias (pimentas) em fundo. Sem grande vivacidade, invoca aromas predominantemente secos, tirando protagonismo à fruta que não mostra grande vitalidade/frescura.

Boca com ligeira frescura, conjunto onde tudo está muito bem arrumado, mas com sensações de querer despedir-se, a fruta perde protagonismo para outros sabores, tabaco, cacau e vegetal conferem-lhe um travo seco em fundo, num final de persistência mediana.

Apesar do ano ter sido generoso para a Herdade do Mouchão, relembro que foi desta colheita que saiu para o mercado o primeiro Mouchão Tonel 3/4, este Dom Rafael mostrou que já não tem muito mais a dizer. Entrámos naquele momento em que umas garrafas se vão mostrar melhor que outras, os aromas apontam para a queda do império e é de aproveitar enquanto resta alguma coisa, mesmo assim esta prova/garrafa é das que não deixa muitas recordações.
13,5
- 84 pts

Quinta do Crasto 1999

Situada na margem direita do rio Douro, entre as localidades de Pinhão e Peso da Régua, a Sociedade Agrícola da Quinta do Crasto dispõe de 130 hectares, dos quais 70 são ocupados por vinha (com as mais antigas a passarem dos 70 anos). Tal como as grandes Quintas do Douro, a sua origem remonta a tempos longínquos (o nome CRASTO, deriva do latim castrum, que significa Forte Romano). As primeiras referências datam de 1615, aparecendo no mapa do Douro (séc XIX) feito pelo Barão de Forrester. Nessa altura apenas os melhores vinhos do Porto ostentavam o nome da Quinta, sendo a restante produção vendida a terceiros.
Logo no início do século XX, a Quinta do Crasto foi adquirida por Constantino de Almeida, fundador da casa de vinhos Constantino. Em 1923, após a morte de Constantino de Almeida foi o seu filho Fernando de Almeida que se manteve à frente da gestão da Quinta dando continuidade à produção de Vinho do Porto. Em 1981, Leonor Roquette (filha de Fernando de Almeida) e o seu marido Jorge Roquette assumiram a maioria do capital e a gestão da propriedade e com a ajuda dos seus filhos Miguel e Tomás deram início ao processo de remodelação e ampliação das vinhas bem como ao projecto de produção de vinhos de mesa pelos quais a Quinta do Crasto é hoje amplamente conhecida. O tinto Quinta do Crasto teve a assinatura de David Baverstock, que foi responsável desde a primeira colheita em 1994 até 1999, sendo esta última alvo de prova com o respectivo Quinta do Crasto 1999.

Quinta do Crasto 1999
Castas: Tinta Roriz, Tinta Barroca e Touriga Francesa - Estágio: n/d - 13% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média.

Nariz de fina complexidade, a mostrar um vinho onde os 10 anos de vida já fizeram o seu trabalho, mais polido de aromas e sem a intensidade/concentração de outros tempos. Deixou-se de frescuras e ganhou em cordialidade, refinando-se a nível comportamental. O nariz ainda mostra alguma frescura com a fruta (amoras, bagas, cereja) presente mas com menos protagonismo, fruta passa e algum bombom de ginja em conjunto com vegetal seco (esteva), tabaco, grão de café e compota.

Boca bem harmoniosa e de mediana espacialidade, a mostrar um grande polimento de conjunto. A fruta fresca e delicada mostra-se presente mas sem grandes concentrações, entrelaçando-se numa subtil frescura, à qual se junta em segundo plano um travo vegetal seco, ligeiramente compotado, tudo isto em complemento do encontrado na prova de nariz.

É difícil encontrar um vinho tinto em Portugal que passados 10 anos consiga mostrar-se em melhor forma do que quando foi lançado para o mercado (ainda que precocemente em alguns casos). Muitos deles ficam pelo caminho, retorcidos pelas forças descontroladas que os dominam, ou de tão fechados que se mostram, acabam por morrer nessa mesma clausura sem nunca arranjarem maneira de conseguir abrir a porta. O vinho que aqui coloco faz parte daqueles que apesar de tudo, passados 10 anos consegue ser uma boa surpresa, não sendo melhor agora do que quando se mostrou ao mundo, não deixa de dar uma prova bastante agradável. Como alguns dizem, estamos perante um vinho feito, pronto a consumir sem ter muito em que pensar pelo que não vale a pena esperar muito mais tempo, é agora que o prazer está assegurado. 16 - 90 pts

07 novembro 2009

BODEGAS JIMÉNEZ-LANDI SELECCIÓN 2005

Este vinho é fruto da segunda colheita do produtor Jiménez-Landi, e surge com o nome de Selección. Colocado em prova por um bom amigo, na página do produtor não é feita qualquer referência a este vinho, o que não deixa de ser curioso. Deixo então a respectiva nota de prova para matar a curiosidade.

BODEGAS JIMÉNEZ-LANDI SELECCIÓN 2005
Castas: 50% Syrah - 50% Garnacha - Estágio: 7 meses barrica carvalho francês - 14,5% Vol.

Tonalidade granada escuro de concentração média/alta.

Nariz a mostrar-se com alguma complexidade, boa concentração de aromas, essencialmente no que toca à fruta negra (amora, framboesa, ameixa) bem madura e dando a sensação que se apresenta em várias camadas com toques de compota pelo meio. Tudo bem interligado e em plena harmonia, num perfil coeso e ao qual se juntam, aromas especiados, cacau morno, fumo e vegetal seco.

Boca de estrutura média/alta, sente-se leve ponta de frescura, ligeiro balsâmico com a fruta (ameixa, amora) bem presente. Tudo em boa sintonia com toques de cacau morno, vegetal e algum especiado em fundo. Um vinho de corpo redondo e espaçoso, saboroso, fruta presente a manobrar todo o conjunto, com madeiras finas a servir de amparo, terminando com boa persistência.

É mais um belo exemplar deste produtor. Convenhamos que foi um extra na prova que realizei com o Piélago e o Sotorrondero, ambos da colheita 2007. Mostrou-se imponente e ao mesmo tempo mais esclarecido, com vida pela frente. De todas as formas agradou muito, mostrou-se diferente dos outros dois, mas com um fio condutor comum a todos, tudo sem quebras na sua prestação. Destaque para a pesadíssima garrafa que lhe foi destinada, o preço ronda os 18-20€ em algumas garrafeiras. 16,5 - 91 pts

04 novembro 2009

BODEGAS JIMÉNEZ-LANDI PIÉLAGO 2007

Depois de ter provado o Jiménez-Landi Sotorrondero 2007, dou lugar à prova do Jiménez-Landi Piélago 2007. As vinhas que lhe dão origem, plantadas em 1960 sobre solos siliciosos de origem granítica, são o orgulho deste produtor e ficam situadas na Serra de San Vicente (Real de San Vicente) a 50 km de Méntrida, dispersas em 11 pequenas parcelas de Garnacha, num total de 8 hectares, a uma altitude que varia entre os 750 e os 850 metros.
Sobre os solos diz o produtor, e passo a citar:

“Los componentes silíceos aportan frescura a los vinos, caballo de batalla de los vinos españoles, sobre todo de los procedentes de la zonas cálidas. La altitud es mi arma contra la latitud en la que me encuentro. En la Sierra de San Vicente existe gran diferencia térmica entre el día y la noche, lo cual es fundamental en el ciclo de maduración, porque la hace más lenta. Puedo decir que mis Garnachas maduran a fuego lento. Además, disfruto trabajando con esta variedad. Aunque sea una de las más ingratas, es de las que más valoro porque bien elaborada puede dar unos vinos excelentes”

A ter em conta algumas diferenças no processo de elaboração dos dois vinhos, enquanto o Sotorrondero a uva entra sem engaço, no Piélago a uva entra com engaço (30-100% dependendo da vinha). No que toca ao estágio em barrica destes vinhos, passam ambos por carvalho francês, sendo que o Sotorrondero em barricas de 300 e 500 litros e o Piélago em barricas de 500 e balseiros de 1.500 litros. Segundo o enólogo:

“No uso la barrica bordelesa de 225 litros porque me interesa una crianza un poco más reductiva, con menos microoxigenación, en que el vino tenga menos contacto con la madera para proteger sus aromas varietales y minerales”

Bodegas Jiménez-Landi Piélago 2007
Castas: Garnacha 100% - Estágio: 14 meses em barricas de carvalho francês de 500 e 1.500 litros. - 14,5% Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração alta.

Nariz marcado logo de inicio por tosta e fruta negra (ameixa, framboesa, amora) bem madura com alguma passa (ameixa). Sente-se um vinho denso e mais sério que o Sotorrondero, toque mineral discreto com frescura menos sentida num conjunto com maior complexidade e profundidade. A madeira continua harmoniosa (café, tosta) e bem integrada, dando suavidade ao conjunto num fundo floral.

Boca
com entrada focada na expressividade da fruta madura e gulosa (doce). Corpo médio, harmonioso e com travo fresco (mais fresco do que no nariz), especiaria (pimenta preta) e madeira discreta mas funcional. Mostra ainda uma ligeira secura que deverá ir ao lugar com mais algum tempo de repouso em garrafa, terminando em persistência média/longa.

Lado a lado com o Sotorrondero, este Piélago surge bem mais sólido e com menos frescura de aromas, notando-se claramente um vinho mais sério. Potência controlada na maneira como se mostra, com a madeira suficientemente bem colocada para não tropeçarmos nela, num conjunto harmonioso e ainda com muito para dar e falar. A produção foi de 10.000 garrafas com preço a rondar os 18-20€ 16,5 - 91 pts

BODEGAS JIMÉNEZ-LANDI SOTORRONDERO 2007

Produzido pelas Bodegas Jiménez-Landi, o vinho Sotorrondero é considerado como a linha base deste recente produtor da D.O. Méntrida.
Em solos argilo-arenoso de natureza granítica, estão situados os 19 hectares que perfazem as quintas "Pedromoro" e "La Dehesa", com cepas de idade inferior aos 10 anos no caso da Syrah e a variar entre os 40-70 anos no caso da Garnacha, situadas a uma altura que ronda os 650 metros.
É aqui o berço do "Sotorrondero", um vinho que tem como base a casta Syrah, e que variando conforme o ano, se complementa com Merlot, Cabernet ou Garnacha, sendo a última maior alvo de escolha. A intervenção na vinha é mínima, com o objectivo de manter a máxima expressão das vinhas, que junta a Syrah com a Garnacha (neste caso).

Bodegas Jimenez Landi Sotorrondero 2007
Castas: Syrah 90 %, Garnacha 10 % - Estágio: 10 meses em barricas carvalho francês de 300 e 500 litros. - 14,5 % Vol.

Tonalidade ruby escuro de concentração média/alta.

Nariz a indicar presença de ligeiro químico que precisa de uma breve decantação. Mostrando desde logo uma boa intensidade de aromas, fruta negra (cereja, amora) bem madura com compota e especiarias. Abre para tons florais, baunilha, tosta, cacau e mineralidade sentida em fundo. Bem coeso e envolvente, fresco e com a madeira a mostrar bom entendimento com a fruta.

Boca com bom volume, estrutura média, frescura sentida capaz de compensar o peso da fruta bem madura que aqui se encontra ao mesmo nível da prova de nariz. Tem uma passagem de boca bem harmoniosa, combinando ligeira compota (na sensação de doce) com tosta da madeira, floral e especiaria. Mostra um bom equilíbrio entre fruta/madeira/frescura, com um final de boca médio/longo.

O que posso dizer, gostei muito e pelas palavras dos amigos a quem apresentei o vinho, ficou certo que é uma boa surpresa, talvez o vinho de mais fácil aproximação deste produtor, aquele que se mostra de uma forma mais fácil/esclarecedora, sem nunca deixar de lado o seu toque mais pessoal. Pela prova que deu pode ser bebido agora ou guardado mais algum tempo. Foram produzidas 28.000 garrafas, com um preço que a rondar os 10€ o torna um alvo bastante apetecível. 16 - 90 pts

Bodegas Jiménez-Landi

Numa infinita vontade em tentar encontrar algo de diferente neste mundo dos vinhos, gosto de vasculhar o que se vai fazendo não só dentro de portas, mas também lá por fora. Sou da opinião que ficar resumido apenas e só ao produto nacional é um acto de puro egocentrismo enófilo que nenhum apreciador que se preze deverá adoptar.
Quem sabe, poderá ser este o começo de uma nova abordagem, uma maior e mais detalhada aproximação aos vinhos de Espanha, um abrir de olhos para novos caminhos para todos aqueles que aqui costumam vir. Irei por isso mesmo falar de alguns produtores que têm vindo a aparecer do lado de lá da fronteira, produtores que eu tenho seguido direi até em algum silêncio e que por factores como a qualidade e a identidade, merecem a meu ver, um digno destaque aqui no Copo de 3.

Uma das surpresas de que falo são as Bodegas Jiménez-Landi, uma pequena adega familiar situada em Méntrida, terra de ampla história vitivinícola que dá nome à denominação de origem do noroeste da província de Toledo. A D.O. Méntrida onde a Garnacha é rainha, é caracterizada pelos solos arenosos de origem granítica, ácidos e pobres em matéria orgânica. Com um clima continental mediterrâneo extremo, longos e frios Invernos, embora protegidos dos ventos frios do norte e do oeste pela barreira montanhosa de Gredos. O Verão é quente e com baixa precipitação, cerca de 350 mm. anuais, concentrados no Outono e na Primavera.

Bodegas Jimenez-Landi, é um recente projecto familiar que arrancou em 2004, conduzido por dois primos; José Benavides Jiménez - Landi (gerente) e Daniel Gómez Jiménez - Landi (enólogo), com o objectivo de elaborar vinhos com base numa filosofia de respeito pelo meio ambiente, tradição e equilíbrio com o que nos rodeia. Esta mesma convicção de que a natureza oferece o que tem de melhor quando se cultiva com respeito, faz com que nas 3 propriedades que fazem parte deste projecto, se trabalhe o vinhedo ecológico com as "armas" da biodinâmica. Segundo os responsáveis, desta maneira os resultados obtidos, expressam as características do solo, do clima, da terra e do céu.
E pode-se afirmar que os resultados não tardaram em aparecer, com o "Sotorrondero" e o "Piélago", vinhos elegantes e minerais, a conquistarem a crítica nacional e internacional, e mais recentemente com os topos de gama de reduzida produção com 2.000 garrafas o "El fin del mundo" e 200 garrafas de "Cantos del Diablo".

Tive a oportunidade de provar os novos Sotorrondero e Piélago, ambos da colheita 2007, e o Selección 2005. As notas de prova vão ser colocadas em separado e posteriormente colocarei aqui o link e um breve resumo das mesmas.

Bodegas Jiménez-Landi Selección 2005
Bodegas Jiménez-Landi Sotorrondero 2007
Bodegas Jiménez-Landi Piélago 2007

03 novembro 2009

Marchesi De' Frescobaldi Benefizio Pomino Bianco Riserva 2006

Faz mais de 700 anos que a família Frescobaldi está ligada a actividades como a agricultura e viticultura, sendo os primeiros a plantar castas internacionais na Toscânia, como a Pinot Noir, Merlot, Cabernet Sauvignon ou Chardonnay. São já 30 gerações desta família, dedicadas à produção de grandes vinhos da Toscânia (Itália), possuindo 5,000 hectares onde 1,000 são de vinha, separada por 9 zonas da Toscânia.
Uma dessas zonas é Pomino, onde se situa o Castello di Pomino, desenhado pelo arquitecto Gherardo Silvani. Esta D.O.C. foi reconhecida em 1716 por Cosimo III de’ Medici, Grande Duque da Toscânia, pela excelência dos seus vinhos. Pomino goza de um clima único na Toscânia, com um eco-sistema muito próprio de floresta de coníferas, castanheiros e oliveiras a rodear as vinhas. A zona cobre cerca de 1,458 hectares, dos quais 108 são de vinhas, com elevações a variar entre os 300 e 750 metros com os solos a serem ligeiramente ácidos.
O vinho em prova, é o Pomino Benefizio, o branco topo de gama produzido a partir de uma única vinha de chardonnay, plantada a 700 metros de altitude.

Marchesi De' Frescobaldi Benefizio Pomino Bianco Riserva 2006
Castas: 100% Chardonnay - Estágio: estágio durante 12 meses em barricas novas carvalho francês com mais 1 ano em garrafa - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino com leve dourado de média intensidade.

Nariz sereno a mostrar-se com fina complexidade, leve baunilha e fruta fresca de cariz citrino (laranja) e tropical (abacaxi), tudo muito harmonioso e fresco. Flores amarelas, ligeiro toque de mel com mineralidade em fundo.

Boca com bom volume, bem estruturado, acidez presente com uma bela frescura a percorrer toda a boca e a balancear-se de forma harmoniosa com a fruta (citrino com algum tropical) e a madeira muito bem integrada (amanteigado) a dar um suave envolvimento ao conjunto. Tem segurança no que mostra e como o mostra, em final médio/longo com travo mineral.

Um belo vinho branco, distinto, elegante, harmonioso, com algum seriedade, onde a acidez presente se alia a uma madeira finamente integrada. Não desmaia nem enjoa, mostra-se a um belo nível, com prestação muito positiva durante todo o tempo que esteve em prova. Custou cerca de 22€ e é uma aposta ganha para todos aqueles que procuram um vinho requintado, para acompanhar pratos delicados, à base de vieiras por exemplo. 16,5 - 91 pts

De Puta Madre 2005

A Bodega Jacques & François Lurton, situada na região de Toro y Rueda (Espanha), é propriedade dos dos filhos, Jacques e François, de André Lurton (Châteaux Bonnet, La Louvière, Dauzac...). São a quinta geração de uma das famílias com mais renome da viticultura de Bordéus, e que nos últimos 20 anos tem percorrido muitos quilómetros por todo o mundo em busca de novos desafios. Foi assim que da mão destes dois "flying winemakers" surge um vinho de mesa, da zona de Castilla y Léon, de nome bastante peculiar: De Puta Madre.
O nome peculiar com que foi baptizado este vinho, mais não é que uma expressão utilizada em Espanha para mostrar enorme agrado sobre algo. Neste caso foi a expressão utilizada pelos enólogos quando provaram uma barrica "esquecida" de verdejo em plena adega. Um vinho aromático e refrescante, com 20 g/l de açúcar, cujo objectivo é fazer ressurgir um tipo de vinho tradicional de Rueda (Castilla). É um colheita tardia, sem botrytis, fermenta em barrica a baixa temperatura e estagia posteriormente em barrica "sur lie" durante 24 meses.

J&F Lurton De Puta Madre 2005
Castas: 100% Verdejo - Estágio: 24 meses em barricas - 15,5% Vol.


Tonalidade amarelo latão, com toque esverdeado.

Nariz claramente fora do normal, é um aroma que de imediato nos leva a pensar em amendoim torrado, ao qual se juntam frutas cristalizadas e ligeira fruta em calda (pêssego), arranjo floral com gengibre fresco, especiaria e uma boa dose de frescura que contrabalança todo o conjunto.

Boca a revelar um vinho de travo doce, mas com uma acidez presente que lhe confere uma boa frescura durante toda a passagem de boca, evita cair em algum possível enjoo. De perfil redondo e com sensação de untuosidade, espacialidade média, com toques de gengibre, frutos secos, fruta em calda e cristalizada... tudo em harmonia, com final de boa persistência.

É um vinho cheio de carácter e personalidade, nunca tinha provado nada semelhante, se é que existe. A destacar a maneira como se entrelaçam açúcar/acidez, a fruta ainda fresca mas com boa parte já em calda, um vinho quase com duas caras, direi mesmo que parecem duas almas presas no mesmo co(r)po. Deu mostras de uma boa evolução, não se importa muito com a subida de temperatura e consegue aguentar-se muito bem durante todo o final da refeição. O preço varia bastante, pode ser aqui encontrado por quase 39€. 16,5 - 91 pts

02 novembro 2009

Quinta dos Carvalhais Colheita Seleccionada 2005

O Quinta dos Carvalhais Colheita Seleccionada 2005 é produzido a partir de uma selecção de uvas das castas brancas Encruzado e Verdelho, oriundas exclusivamente da Quinta dos Carvalhais. As uvas das castas destinadas a este vinho foram recebidas na moderna adega da Quinta dos Carvalhais em pequenas caixas. Os mostos, devidamente protegidos da oxidação, foram sujeitos a decantação estática a baixa temperatura por um período de 24 horas, de modo a atingir o grau de limpidez desejado. Foram depois enviados para depósitos onde se adicionaram as leveduras selecionadas e se aguardou o arranque da fermentação. O mosto da casta Encruzado seguiu para barricas de carvalho novo, onde fermentou durante aproximadamente 20 dias a temperaturas que não ultrapassaram os 19º C. O verdelho, por sua vez, fermentou em depósito inox com temperatura controlada a 16º C. Parte do vinho que constitui este lote fermentou e estagiou cerca de 6 meses em meias pipas de carvalho francês novo, período durante o qual foi sujeito a frequentes operações de agitação das borras finas de modo a aumentar a sensação de volume e a complexar os aromas próprios da madeira. Após este período, os vinhos foram transferidos para barricas de carvalho usadas onde estagiaram mais cerca de 20 meses.

Quinta dos Carvalhais Colheita Seleccionada 2005
Castas: Encruzado e Verdelho - Estágio: Encruzado fermentou em barrica e Verdelho em inox, com estágio posterior de parte do vinho 6 meses barrica carvalho francês - 14% Vol.

Tonalidade amarelo palha com laivo dourado de mediana intensidade.

Nariz com aroma delicado de mediana complexidade, que varia entre aromas mais quentes e aromas mais frescos, mostrando logo de inicio um bom casamento entre a madeira e a fruta fresca (pêssego, abacaxi) e cozida (maçã, pêra), acompanhada de notas de açúcar queimado. Com aromas que lhe apontam uma leve oxidação, baunilha, flores brancas com frutos secos no fundo e ligeira mineralidade.

Boca com entrada harmoniosa, corpo mediano tal como a espacialidade, tudo isto com uma frescura bem ligada ao peso da fruta que surge nos mesmos apontamentos do nariz. Fruto seco a meio palato, alguma tosta, flores brancas e sensação de suave untuosidade, onde a barrica dá bom aconchego mas a acidez presente fala um pouquinho mais alto (não o suficiente para que se destaque por uma enorme frescura). Perde-se um pouco no final de boca, em final de persistência média/baixa.

Não gostei tanto deste 2005 como do "original" colheita seleccionada 2004. Achei este vinho menos complexo, um pouco mais fresco, directo e com uma boca que perde claramente para a primeira versão. Poderá precisar de um pouco mais de tempo em garrafa quem sabe. Enquanto o primeiro nasceu fruto de um acaso, foi "vendido" como tal, este parece-me que já foi uma tentativa de imitar o primeiro. O preço de compra em garrafeira deverá rondar os 16€. 16 - 90 pts

01 novembro 2009

Esporão Private Selection branco - Mini vertical

O Esporão Private Selection (o Garrafeira branco) é o topo de gama no que toca a brancos da Herdade do Esporão, e é sem dúvida alguma um dos melhores vinhos brancos que se produzem em Portugal. Por mais que muitos consumidores encarem este vinho como um vinho pesado, gordo, em que a fruta presta vassalagem à madeira por onde andou... existe algo que mora nesses mesmos consumidores que é o facto de não saberem dar o tempo necessário ao vinho, para que mostre todo o seu potencial.
Um exemplo de como alguns branco se dão bem com o tempo ou direi, sempre gostaram de dormir um bocadinho mais na garrafa, e este branco do Esporão é mais um caso em que o saber guardar e esperar pelo melhor momento vale sempre a pena.
Foi com o intuito de sentir o pulso a algumas colheitas do Esporão Private Selection branco, que um pequeno grupo de amigos se juntou à volta de uma mesa, com a prova a começar do mais recente para o mais antigo. Uma prova que seria a surpresa de uma confirmação.


Esporão Private Selection branco 2008
O mais recente no mercado e aquele que mostra para já o aroma mais fechado e coeso, madeira ligeiramente marcante no aroma, com notas de baunilha evidente. Coeso com fruta fresca e madura, seriedade, frescura, cheio e harmonioso, toque vegetal a temperar o restante aroma. Boca com ligeira untuosidade, corpo redondeado e com frescura quase a lembrar um berlinde de mármore, com boa espacialidade e final. Dá uma bela prova agora mas vai refinar-se na complexidade com algum tempo de garrafa. Mantém a nota já aqui atribuída. 17 - 93 pts

Esporão Private Selection branco 2007
Um pouco mais aberto de aromas que o 2008, nota-se a barrica bem mais integrada em conjunto com a franqueza da fruta (alperce, lima), refinou na complexidade, com ligeiro petrolado a despontar. Boca arredondada com vegetal e fruta presentes, acidez a dar boa dose de frescura que equilibra todo o conjunto de média espacialidade. De todos é o que dá uma prova menos expressiva, quer em boca quer em nariz, sinal de que poderá estar numa altura de mudança. 16,5 - 91 pts

Esporão Private Selection branco 2006
Aroma delicado que por momentos tem semelhanças com os aromas encontrados em alguns colheita tardia, seja na fruta fresca com toques de caramelização e leve travo melado, leve floral, especiarias e algum fumado em fundo. A madeira faz parte mas encontra-se já bem integrada, reconfortando e sustentando todo o conjunto. A mesma harmonia/elegância sente-se na boca, com boa espacialidade e leve frescura, presença a dois tempos (no segundo tempo perde-se algo no final de boca). Vinho de muito bom nível a mostrar que valeu a pena esperar por ele. 17 - 92 pts

Esporão Private Selection branco 2004
Lote composto por Antão Vaz, Arinto e Sémillon, ao qual se deu o respectivo tratamento em barrica. O tempo em garrafa só lhe fez bem, e foi sem dúvida o que melhor complexidade apresentou, num bouquet fino, com boa profundidade de aromas, aroma a lembrar gás, flores, fruta fresca em ligeira compota, mostrando laivos de tropicalidade. A madeira neste caso é apenas pano de fundo, num conjunto pleno de harmonia e elegância, com uma acidez que confere uma frescura algo inesperada para os mais desprevenidos. A boca neste caso apenas nos faz confirmar tudo aquilo que já se tinha encontrado no nariz, com corpo mediano, redondo mas ao mesmo tempo fresco e com alguma delicadeza pelo meio. 17,5 - 94 pts

Em pequena conclusão, são vinhos que podem e devem ser guardados, onde para tal convém ter em conta a prestação do ano de colheita, pois a nível de finesse e complexidade todos eles mostram capacidades para melhorar aquilo que de certa maneira escondem enquanto novos. A surpresa de uma confirmação.

30 outubro 2009

Primeira Paixão Verdelho 2008

Chegado directamente da Madeira, este Primeira Paixão 2008 é um 100% Verdelho... direi Verdelho do autêntico e não daquele encapotado mas que afinal não passa de Gouveio disfarçado.
A Paixão do Vinho foi criada para servir o mercado com vinhos de qualidade distintiva.
Para a sua linha própria de vinhos, a opção foi criar vinhos de terroir, de pequenas produções, por especialistas nas diferentes regiões. Este vinho é um bom exemplo dessa estratégia e marca a estria da "Primeira Paixão" no mercado. É produzido a partir da casta Verdelho, uma das principais da Madeira, e é um projecto conjunto de dois enólogos que são também dois bons amigos. Rui Reguinga e Francisco Albuquerque. A ideia de um dia desenhar um vinho estava há muito tempo nos seus planos e agora torna-se realidade.

Primeira Paixão Verdelho 2008
Castas: Verdelho - Estágio: Inox - 12,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de retoque esverdeado

Nariz jovem, fresco e intenso nos aromas que apresenta. Sente uma fruta bem madura de qualidade na variedade tropical (mais maracujá que abacaxi), e citrinos (lima, limão), misturada com erva fresca, suave floral e um segundo plano dominado por uma mineralidade quase vincada que parece ser a alma deste vinho. É esta última sensação que parece perdurar e querer mostrar um vinho que apesar do resto , é delicado e poderei dizer "cristalino".

Boca de entrada bem fresca em espacialidade mediana, onde a fruta tem o seu peso e conjuga-se muito bem com uma acidez bem viva, que confere ao vinho uma frescura notável. Travo vegetal na mesma onda do encontrado na prova de nariz, o vinho continua a mostrar frescura e a tal mineralidade, com um travo seco e final prolongado.

Mas que grande surpresa pensei eu assim que o cheirei, na boca apenas iria confirmar aquilo que o nariz já me tinha dito. Convém esclarecer que este é o Verdelho original e nada tem que ver com o Verdejo (Rueda) ou com o tal Verdelho que afinal se chama Gouveio. Mesmo que um pouco parecido nos aromas ao tal Verdejo que eu tanto gosto, se bem que andem "chatos" e a cair muito nos aromas de fruta tropical mais parecendo saladas de fruta exótica. Este é diferente, tem carácter e personalidade, direi identidade, pois os solos e o clima (terroir) da Madeira assim o permitem, eu só tenho que agradecer. 16,5 - 91 pts

29 outubro 2009

Quinta das Marias Encruzado 2008 e Quinta das Marias Encruzado Barricas 2008

Depois de já ter provado o Quinta das Marias rosé 2008, coloco agora os Quinta das Marias Encruzado, na versão com e sem barrica, ambos da colheita 2008.
O produtor Peter Viktor Eckert (Quinta das Marias) poucas apresentações necessita pois ocupa lugar de destaque no actual panorama dos vinhos do Dão, com uma gama de vinhos que foi crescendo de forma sustentada no que toca à qualidade. Deveria ser sempre assim ou não ?
São vinhos que mostram no copo, um Dão mais atrevido, menos conservador e mais virado para um consumidor moderno, acostumado a um perfil mais internacional nos vinhos que consome.

Quinta das Marias Encruzado 2008
Castas: Encruzado - Estágio: Inox - 14% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de média/baixa intensidade.

Nariz a mostrar um Encruzado de mediana intensidade, direi que o achei algo comedido na forma como se mostrou. É sim um vinho com a sua dose de elegância e frescura, centrado em aromas de fruta (limão, toranja, pêra, melão), flores e travo vegetal fresco. No final surgem toques de especiaria que lembram pimenta e algum resinoso, num conjunto fresco e coeso.

Boca de entrada fresca e bem estruturada, com a fruta ao nível do nariz, aliada a uma acidez que suporta todo o vinho. Mediano na espacialidade, equilibra a meio palato para quebrar ligeiramente no final. O peso do álcool não se faz notar devido a uma acidez suficiente para tal. De resto é um vinho fresco e frutado, com final de mediana persistência.

Após terminar a prova deste vinho a pergunta que se tem a fazer é, será que os 14% Vol. eram mesmo necessários ? De resto o vinho mostra-se apetecível, com preço a rondar os 10€ em garrafeira. A produção é pequena, 3200 garrafas. 16 - 90 pts

Quinta das Marias Encruzado - Fermentação em Barricas 2008
Castas: Encruzado - Estágio: 6 meses em barricas novas carvalho francês - 13,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de média intensidade.

Nariz a revelar de início (ainda que de forma não muito acentuada) a madeira por onde passou, tudo a ritmo lento e sem pressas, harmonioso e sem mostrar grande expressividade. Presença de fruta fresca de qualidade, cabaz de citrinos com algum pêssego e fruta branca, toque herbáceo pelo meio com fundo especiado (pimenta).

Boca com bom corpo, peso médio, frescura e boa intensidade, fruta presente ao nível do encontrado na prova de nariz, toque especiado (pimenta branca), vegetal fresco e a envolvência que lhe dá a barrica, sensação de leve cremosidade. Não é um vinho que encha por completo a boca, é um pouco comedido a preencher os espaços, embora seja todo ele harmonioso e prazenteiro, em final de boca de boa persistência.

É um vinho de garagem dada a pequena produção de 1800 garrafas, cabendo a esta o nº1510. Melhorou desde a primeira prova a quando do seu lançamento, mantendo-se nesta colheita a qualidade que já nos tinha sido apresentada na primeira colheita. O preço ronda os 15€, num vinho que mostra que a casta Encruzado se dá bem tanto em Inox como em Madeira, sendo que neste caso se assiste a uma piscadela ao novo Dão, ou direi algo mais internacional. 16,5 - 91 pts

27 outubro 2009

Allo dócil 2008

Os tempos modernos têm permitido a alguns produtores, enveredarem por caminhos cheios de experiências e tentativas de inovação, grande parte das vezes são caminhos estreitos e vertiginosos e que uma vez entrando torna-se difícil sair, obviamente uns são mais bem sucedidos e outros nem tanto. Encaixo no exemplo dos bem sucedidos (até ver no que respeita às novidades), o produtor do vinho Soalheiro, aquele que se tornou ao longo dos últimos 25 anos um alvarinho de referência e um dos grandes brancos de Portugal.
No passado recente este produtor tem vindo a aumentar consideravelmente a sua gama, primeiro com um surpreendente Primeiras Vinhas, seguido de um topo de gama Reserva, depois um Allo Dócil e a mais recente experiência tem como nome Soalheiro Alvarinho Dócil.
Centro a atenção no Allo dócil 2008 (Alvarinho e Loureiro), que resultou da parceria entre Dirk Niepoort e José António Cerdeira, onde o objectivo foi a produção de um branco que apresentasse ligeiro açúcar residual (entenda-se como doçura), boa dose de frescura e pouco grau alcoólico, o que poderá ser resumido na palavra Dócil.

Allo dócil 2008
Castas: Alvarinho e Loureiro - Estágio: inox - 10,5% Vol.

Tonalidade amarelo citrino de ligeira concentração.

Nariz em mediana intensidade, um pouco calmo ou mesmo dócil no seu manifesto, mostra fruta (tropical, citrino e alguma fruta branca) madura e fresca com alguma calda, floral e herbáceo em segundo plano. Consegue cativar pela maneira simples e descontraída como se mostra.

Boca de entrada fina, delicada, afinada, com ligeiro toque de doçura presente e que de imediato se faz acompanhar por uma acidez moderada. Exprime-se da mesma forma que no nariz, embora a doçura ganhe aqui um maior destaque como será de compreender. O final de boca é mediano tal como a sua persistência. Talvez meigo/dócil demais para o meu gosto.

O vinho em questão com um preço de compra acessível, ronda os 6€ em garrafeira, não me conseguiu despertar grandes euforia ou atenção. É um vinho de aproximação fácil, mas que depois na forma como se mostra de tão fácil que é, dá a sensação que lhe falta algo mais em boca que no nariz. Funciona bem a acompanhar entradas simples ou até alguma comida de cariz mais oriental desde que não muito temperada. 15 - 87 pts
 
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