Copo de 3: março 2012

29 março 2012

Soalheiro 2011

Escrever sobre este vinho começa a ser costumeiro, não apresenta nada de novo a quem o conhece bem e para quem não o conhece apenas digo que está a perder a oportunidade de beber um dos melhores brancos feitos em Portugal e no mundo... sim no Mundo. Pelo preço que nos custa a roçar os 9€, um pouco menos, ainda por cima vendido em grande superfície comercial que o coloca bastante acessível, depois é dizer que são mais de 25 anos de marca com consistência e um potencial de envelhecimento mais do que provado e comprovado (o 2007 está algo de fantástico), é por tudo isto uma RPQ explosiva de um vinho de terroir, identidade marcada e e que apenas se consegue feito onde é feito. Pessoalmente a minha escolha recai neste Soalheiro, o normal, o mais "simples", mas o que me continua a dar as garantias da tal boa longevidade, deixando de lado o Soalheiro Primeiras Vinhas que ainda não me conseguiu convencer plenamente da excelência que muitos lhe apontam... poderei estar enganado, mas apenas o tempo o poderá demonstrar. 

Dito isto esta colheita 2011 foi bebida, não provada, com as triviais Ameijoas à Bulhão Pato,  acho que já é ritual cá em casa a primeira garrafa de Soalheiro da nova colheita ser bebida com as ditas. A ligação continua a ser fantástica, o vinho tem as variantes normais dos anos de colheita, a de 2011 foi declarada clássica pelo produtor, mais preciso, equilibrado e com exuberante fruta tropical e citrina bem viva e fresca com mais pureza tanto no nariz como no palato, mais definido, acidez limonada, mineralidade presente num conjunto que mostra raça, músculo e nervo. Gosto da combinação entre a fruta madura, o seu toque doce natural com a aquela acidez que lhe confere uma enorme frescura que se prolonga no final... acompanha lindamente as ameijoas com o toque do alho e dos coentros frescos, com algum vegetal fresco que o vinho também mostra ter... harmonia de sabores e aromas refrescantes num final de tarde amornado e Primaveril. Não falha, nem na prova que dá nem cá por casa, tornará a ser uma vez um ponto obrigatório quando entrarem em campo bichezas do mar de grande ou pequeno porte. Afinal de contas beber um grande vinho é mais acessível do que parece... 93pts

27 março 2012

Mercados de Portugal e Gosto de Portugal no 24Kitchen


Aqui deixo o meu apoio a estes 3 novos projetos que vão estrear em breve no canal 24Kitchen, serei seguidor atento de cada um deles, colocarei a notícia tal como a recebi, na íntegra...
Depois da estreia de ‘Papa-Quilómetros’ (dia 29 de março), o 24Kitchen traz ao ecrã mais duas produções portuguesas que nos trazem o melhor do nosso país. ‘Mercados da Minha Terra’ (dia 02 de abril) e ‘Gosto de Portugal’ (dia 04 de abril) são dois programas a cargo do jovem cozinheiro Sebastião Castilho e do ex-concorrente do Masterchef, Rodrigo Meneses, que mostram as maravilhas da gastronomia portuguesa.


Estes dois jovens amantes da cozinha começaram o seu percurso profissional no mundo da publicidade, mas aperceberam-se que o mundo da gastronomia é o que realmente lhes enche as medidas. Agora no 24Kitchen, estes dois cozinheiros viajam por Portugal para nos mostrar os melhores ingredientes e os melhores lugares para se experimentar a verdadeira comida tradicional portuguesa com um toque moderno.

Mercados da Minha Terra’, que estreia em episódio duplo no dia 02 de abril, é apresentado por Sebastião Castilho que visita os maiores e melhores mercados tipicamente portugueses – Aveiro (Mercado do Peixe e Mercado Manuel Firmino), Braga, Almeirim, Caldas da Rainha (Mercado das Frutas e Legumes e Mercado do Peixe), Cartaxo, Cascais, Castelo Branco, Coimbra, Covilhã, Évora, Figueira da Foz, Guimarães, Lagos, Lisboa (Mercado da Ribeira), Loulé, Mangualde, Nazaré, Olhão, Peniche, Portalegre, Porto (Mercado do Bolhão), Reguengos de Monsaraz, Santarém, Setúbal, Sines, Torres Vedras, Viana do Castelo, Vila Franca de Xira, Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Milfontes e Vila Viçosa. Em cada mercado o cozinheiro prepara uma deliciosa refeição confecionada com os ingredientes mais frescos e saudáveis acabados de comprar no mercado.

 Gosto de Portugal’ é um programa para amantes de boa comida. Rodrigo Meneses viaja pelo país para nos mostrar as melhores tascas e os melhores restaurantes que nos apresentam a rica gastronomia nacional. Este programa dá a conhecer não só os melhores sítios para uma refeição em família, com amigos ou até mesmo sozinho, como também os pratos e sabores mais característicos do nosso país. O foodie Rodrigo Meneses vai descobrindo lugares assim como diferentes estilos de comida. Durante os episódios vamos poder conhecer os melhores restaurantes e tascas de Cascais, Campo de Ourique, Setúbal, Porto, etc, assim como vamos poder ver o que servem alguns dos melhores restaurantes de Lisboa na temática ‘Lisboa Deluxe’ ou descobrir os melhores sítios vegetarianos.

26 março 2012

Há qualidade abaixo dos 3€ ?

Fotografia: Diogo Rodrigues
Já tem o seu tempo mas é agora que a retiro do baú das notas, falo de um prova que se realizou dia 5 de Outubro 2011 na Quinta das Carrafouchas (Loures) e teve como mote provar vinhos abaixo dos 3€, por norma os mais baratos são vinhos que estão espalhados no circuito, são campeões de vendas mas mesmo assim são vinhos que fogem das mesas dos apreciadores encartados, da malta que diz que prova... basicamente são os vinhos que se bebiam quando se era estudante e havia pouco no bolso para pagar por uma garrafa de vinho ao jantar. O grupo de prova foi formado no animado grupo do facebook TWA que na pessoa do enólogo Hugo Mendes ficou responsável pela logística da coisa, juntamente com os restantes provadores (8 no total). Objectivo apenas um, verificar a qualidade do que é feito naquele patamar abaixo dos 3€.

Em regime de prova cega, os vinhos foram sendo servidos com uma bateria de 8 brancos... direi que metade dos vinhos em prova a meu ver estavam completamente desinteressantes e sem grandes notas de qualidade. Colocarei a lista de todos os vinhos provados com um pequeno comentário sempre que considere oportuno, a preto meto em destaque os 3 melhores de cada prova.


Prova Régia 2010 Preço: 2,49€ Classificação Média dos Provadores: 14,6/20
Fonte do Nico 2010 Preço: 1,49€ Classificação Média dos Provadores: 14,4/20
Couteiro-Mor 2010 Preço: 1,99€ Classificação Média dos Provadores: 13,9/20
Adega de Pegões Colheita Selecionada 2010 Preço: 2,49€ Classificação Média dos Provadores: 13,6/20
Quinta da Arrancada 2010 Preço: 2,99€ Classificação Média dos Provadores: 13,2/20
Contemporal Bairrada 2009 Preço: 1,99€ Classificação Média dos Provadores: 12,9/20
Encostas de Pias 2010 Preço: 1,65€ Classificação Média dos Provadores: 12,1/20

Sobre os brancos em prova o claro destaque para o Prova Régia, um 100% Arinto que deixou de ser D.O.C. Bucelas pois as uvas face ao aumento de produção começaram a vir de fora da  D.O.C. Frescura, secura na boca, sabores citrinos batidos na lima limão com mineralidade. O Couteiro Mor a mostrar mais uma vez que é sempre uma aposta ganha a sua compra, até mesmo ao nível do tinto, direto, fresco, simples e frutado. Completo desatino com o que o Pegões Colheita Selecionada mostrou, esperava mais deste vinho, bastante mais até porque vai para alguns anos tinha sido compra insistente face à qualidade, depois aumentaram a produção o lote mexeu, a qualidade tremeu e o vinho deixou de ser bem aquilo que era... nos finalmente nota menos para o Contemporal que não tem por onde pegar, faz no entanto confusão como surge o Aníbal Coutinho a dar a cara por um vinho destes... não havia necessidade, ou haveria...

Na prova dos tintos aumento o número de vinhos em prova mas a nível de qualidade não se notou um aumentar da mesma, curiosamente 4 dos tintos tiveram apreciação colectiva abaixo de todos os brancos provados. Não sendo uma amostra do completo panorama vínico nacional, seria alarve pensar nesses modos, deu para fazer uma ligeira brincadeira e coloquei as 3 grandes referências provenientes das Cooperativas do Alentejo, autênticos campeões de vendas, pecando apenas por não estar o Porta da Ravessa esgotado na grande superfície perto da minha casa.


Vale do Rico Homem 2009 Preço: 2,98€ Classificação Média dos Provadores: 14,6
Encostas de Pias Reserva 2010 Preço: 2,49€ Classificação Média dos Provadores: 13,8/20
Cardal 2009 Preço: 2,79€ Classificação Média dos Provadores: 13,6/20
Quinta da Arrancada 2008 Preço: 2,99€ Classificação Média dos Provadores: 13,2/20
Conde De Vimioso 2010 Preço: 2,08€ Classificação Média dos Provadores: 13,1/20
Convento da Vila 2009 Preço: 1,99€ Classificação Média dos Provadores: 12,9/20
Terra de Lobos 2009 Preço: 2,99€ Classificação Média dos Provadores: 12,9/20 
Audaz 2010 Preço: 2,89€ Classificação Média dos Provadores: 12,8/20
Real Lavrador 2010 Preço: 1,58€ Classificação Média dos Provadores: 12/20 
Terras D'el Rei 2010 Preço: 1,58€ Classificação Média dos Provadores: 11,7/20
Pingo Doce Vinho Regional Alentejano 2010 Preço: 1,24€ Classificação Média dos Provadores: 10,4/20
Faro 2008 Preço: 1,99€ Classificação Média dos Provadores: 10/20
D. Fuas Reserva 2003 Preço: 2,85€ Classificação Média dos Provadores: 8/20 
Don Simon Tempranillo Preço: 0,99€ Classificação Média dos Provadores: 7,4/20

Aqui no canto dos tintos os vencedores foram 2 vinhos do Alentejo e 1 vinho Ribatejano, três apostas mais que convincentes para o dia a dia ou mesmo a servirem de refúgio na escolha em carta de restaurante. Destaco a nível pessoal o Convento da Vila que mesmo não tendo ficado nos lugares cimeiros, rondou de muito perto, mostrando que os grandes volumes também podem mostrar uma qualidade bastante interessante. O destaque negativo para o Espanhol Don Simon que será o pior vinho de que tenho memória ter provado na vida... é um autêntico frasco de defeitos e um compêndio daquilo que não deve ser vinho, para aula didática fica a minha recomendação, sempre podem no final pedir o dinheiro de volta uma vez que eles devolvem o dinheiro se não estivermos satisfeitos com a qualidade.

23 março 2012

Torre de Menagem Alvarinho/Trajadura 2011


Este foi um dos brancos que preencheu quase toda uma noite plena de bicheza do mar, porque eram muitos convivas, porque não se queria algo muito pretensioso e capaz de agrado fácil aos palatos mais esquisitos, porque apetecia um vinho de grande relação preço/qualidade para se poder comprar umas caixas e ir abrindo noite fora. Esta conversa tinha sentido na altura da passagem de ano em que acabou por ser o meu primeiro vinho de 2011 provado, mas terá ainda mais sentido neste momento. Numa altura em que se procuram aromas e sabores da Primavera, falo de um vinho para ir bebendo e conversando com os amigos na maior das calmas, esparrachado na esplanada ou no terraço. O blend que este vinho produzido na região dos Vinhos Verdes debita é na maioria dos casos uma escolha perfumada e ao mesmo tempo refrescante, falo da dupla maravilha qual Antão Vaz e Arinto no Alentejo, aqui reinante com Alvarinho e Trajadura. É nas Quintas de Melgaço que nasce, preço a rondar os 3€ e pico, pouco grau alcoólico e fácil de encontrar em grandes superfícies. 

É um branco fresco, direto, que se mostra bem composto e bonito, que cheira bem, torna-se refrescante, jovial, frutado com aromas a fazer lembrar fruta bem madura e sumarenta, citrinos, polpa branca, tropical, com destaque para a Alvarinho que se encontra em maioria no lote. Tem por lá um toque mineral num perfil delicado e cheio de energia, com a boca a corresponder com fruta madura, o toque mineral com leve pico verde (também o mostra no nariz) é aqui mais presente embora a presença em boca o torne ligeiro, não vale a pena pedir milagres. Suave persistência num vinho que se bebe com prazer sem saturar, muito vocacionado para a mesa, seja em modo aperitivo seja em modo companheiro de bicheza do mar, em formato peixe ou marisco, na grelha ou em salada que pode ser adornada por fruta.

Mais uma vez volto a falar de um vinho produzido na Região dos Vinhos Verdes, novamente no copo um exemplar sem tiques estranhos e fiel às suas origens, o preço torna-o ainda mais apetecível, podem dizer que não será dos melhores exemplares onde este dueto Alvarinho/Trajadura se apresentam, mas sem dúvida que não perde o interesse e qualidade que tem. A beber... 87 pts

22 março 2012

Apegadas Qta. Velha Tinto 2007


Numa fase da vida em que ando a encadernar pensamentos falta-me certo tempo que desejaria para escrever tudo aquilo que tenho para contar... e é tanto. Deste modo resta-me ir saboreando alguns vinhos que vou abrindo e que me vão acompanhando ao longo do passar dos dias. Este é daqueles de meia estação, impecável para o antes e o durante o jantar, o antes é com um petisquinho tirado na cozinha enquanto se pensa no que se vai fazer para mais logo... não gosto de pensar de estômago vazio e é mais um pretexto para consoante a prova que o vinho me dá poder mais ou menos equilibrar com o que se serve mais tarde. Neste caso temos o resultado das vinhas mais antigas da Quinta Velha (Quinta das Apegadas), com as tradicionais castas do Douro a comporem o lote final que ainda nadou em barrica.

É um vinho que já me tinha deixado uma boa recordação quando o provei na sua primeira colheita, agora mais adulto e afinado na colheita 2007 voltou com mais e melhor coisas que contar... fico feliz, pois é um vinho bonito. Tem os traços do Douro vincados no seu perfil, não o acho nada moderno, é vinho sério e rijo dentro das suas capacidades, no que mostra é sincero e sem nada a esconder, gosto de vinhos assim, que nos colocam com o pensamento na zona onde nasceram e cresceram. A intensidade de aromas é boa, frutado (frutos vermelhos e bosque), limpo, rejubila energia com cerejas e mirtilos, rijo, solo mineral com presença da madeira no toque fumado que apresenta, apimentado e muito bem composto, alguma austeridade vegetal de bom tom. Na boca continua a bom ritmo, entrada fresca de passagem sem grandes precalços e com boa presença, boa estrutura e frescura, é a fruta sem doçura que comanda com madeira e algum herbáceo, seco, especiaria novamente, final mediano. É bom saber que há vinhos assim, que descomplicam as coisas, que dão uma prova fácil mas de qualidade, toda a gama deste produtor merece destaque com preços sensatos para a qualidade oferecida, neste caso e se não me falha a memória o preço deverá rondar os 7,50€. 90 pts

19 março 2012

Quinta de Gomariz Loureiro Colheita Seleccionada 2010

Estamos a entrar na primavera... é já amanhã, começam a apetecer brancos mais cheirosos e airosos, vinhos que pelos aromas e frescura nos colocam na varanda ou na esplanada em amena cavaqueira com os amigos. Se há um tipo de vinho que nos podemos orgulhar de ter como nosso, como algo com identidade exclusiva é o chamado "Vinho Verde". Enquanto se fazem tintos e brancos noutros lados a imitar por sua vez outros lados, ali na região dos Vinhos Verdes, faz-se vinho genuíno igual a si próprio... não precisa de ir buscar tiques à Borgonha ou a Rueda, não precisa de ir buscar castas a outras regiões para poder brilhar e chamar atenções. Por incrível que pareça, esta poderosa arma de arremesso no mercado internacional é a meu ver muito mal explorada, enquanto muito consumidor procura vinhos com identidade e por autismo passa ao lado desta região vista como menor mas que nos últimos tempos tem sido responsável por alguns dos melhores brancos a nível nacional. 
O vinho de que falo é feito na Quinta de Gomariz, um 100% Loureiro que orgulhosamente ostenta algumas medalhas de ouro de por onde tem passado, sinal de reconhecimento de que agradou por onde andou. Não foi caro, pois nem aos 5€ chegou, apesar de esperar encontrar o 2011 no mercado acabei por ficar com o 2010, a casta já me deu mostras de que quando bem trabalhada dá longa vida aos seus vinhos. Neste Gomariz encontrei um vinho com perfil mais moderno e trabalhado para um agradar mais alargado, bem assente na essência da casta nota-se que há um esforço em tornar o vinho o mais agradável possível, mais fruta madura, mais direto, menos pensativo e mais falador, esperava para o meu gosto de encontrar um pouco mais de nervo, de energia, aquele rasgar de mineralidade em fundo que teimou em não surgir, tem boa exuberância com aromas de citrinos (lima, limão), toque de flores brancas e algum vegetal fresco... todo ele afinado e com boa frescura. Na boca leve pico, acidez citrina, fruta que peca um pouco na presença mediana como no final curto onde lhe falta mais energia e profundidade. É um vinho que se acaba por beber com satisfação, bom amigo da mesa e que acompanhou muito bem uns camarões grelhados na chapa. 88 pts

11 março 2012

VINHO NONSENSE...

O vinho de que falo não tem produtor, nome ou colheita, é um genérico que cumpre apenas e só como aquilo que é... vinho. Como tantos outros que não se destacam em nada, produzido numa qualquer região onde a única coisa que lhe retira o seu sentido de vida é a casta com que foi feito no local que foi feito... a mesma falta de sentido que torna equivalente um Alvarinho feito na Vidigueira a um Antão Vaz no Dão ou um Encruzado em Bucelas.
Quando cada vez mais o que se procura é identidade, um local, uma região dentro de um copo de vinho, produzem-se mutantes com falsos super poderes que em tirando a máscara passam indiferentes por entre a multidão, tristes, deprimidos e sem sentido. São estes heróis imaginários que têm surgido nos últimos tempos em Portugal, como o exemplo da casta Alvarinho fora do seu cantinho dourado (Monção/Melgaço), que passa um atestado de incompetência às castas brancas locais que sempre por lá andaram tendo em conta por exemplo o Alentejo e relembrar o Arinto, Antão Vaz, Roupeiro, Verdelho... Os que os fazem dizem que é o mercado e um tal de consumidor que pede estas coisas. Mas será que pede mesmo ? Que mercado é que opta por ter uma cópia barata em vez de um original que custa  muitas vezes a metade do preço ? Que consumidor é esse que gosta literalmente de ser enganado e compra gato por lebre ? Alto... o consumidor gosta de ser enganado ? É o "normal" consumidor que compra esses desvarios enológicos ? Uma região que não se especializa em coisa alguma como poderá ser alguma vez reconhecida por aquilo que faz ?

Não sou contra a experimentação desde que não passe disto mesmo, vendida e encarada como tal, de resto enquanto consumidor fujo de toda e qualquer manifestação de deslumbre enológico apenas e só porque o enólogo ou produtor gostavam de fazer um vinho à moda de outra zona de renome mundial. Tudo isto não passa de um freak show mediano que é esta realidade vivida em Portugal por alguns nos últimos tempos, o vale tudo que se tornou alguma produção de vinhos faz com que hoje em dia seja possível encontrar vinhos feitos com castas fora da zona que sempre as acolheu a serem vendidos como algo único e deslumbrante, sonhos enófilos apenas com sentido para aqueles que os tiveram e reproduzem, que depois para os enófilos se mostram autênticos pesadelos. Resta então perguntar até aos dias de hoje quantos destes "estranhos" se destacou da mediania ou ousou sequer poder ser comparado com os bons exemplos da casta no seu terreno natal ? afinal de contas se quero comprar um branco do Alentejo porque razão vou comprar um Alvarinho ? Se quero um branco do Tejo porque razão vou comprar um Sauvignon Blanc ? Nesta geração de heróis de chinelos o consumidor é enganado por vinhos que são luzes apagadas da casta que lhes deu origem, muitas das vezes feitos onde ainda se aprende a fazer vinho, onde defeitos são tapados com madeira a mais, onde tudo parece ser uma maravilha que afinal não é, onde quem manda parece não querer saber da identidade das regiões que regula e onde se produz cada vez mais com a carteira do que com o coração e o sentido de gosto apurado. No meio de tanto barulho e ruído enófilo, os verdadeiros Heróis Nacionais vão ficando esquecidos, encostados à parede sem conseguirem mostrar os seus verdadeiros dotes... sem poderem orgulhosamente mostrar que nasceram para nos salvar deste inferno da globalização.

Herdade do Peso Colheita 2008


A extensão da poderosa Sogrape em terras do Alentejo dá por nome de Herdade do Peso, é nesta herdade que são produzidos os vinhos Alentejanos da Sogrape. A aventura começou em 1991 com o Vinha do Monte e foi muito recentemente que se assistiu a um remodelar da cara dos vinhos da Herdade do Peso, mudaram radicalmente e quase que dá a sensação de que são outros vinhos... Em prova o Herdade do Peso Colheita, do ano 2008, um vinho que parece feito a regra e esquadro, nada falha, certinho e direitinho... muito bem afinado e a dar prazer a quem dele se aproximar. É um vinho sereno, morno, Alentejano na sua essência, nobre e humilde na maneira como se mostra no copo.O lote é Aragonês, Alfrocheiro e Alicante Bouschet, andou um ano de molho em madeira mais seis meses em garrafa como quem não quer a coisa, aparece no final com 14,5% Vol. a um preço que rondará os 5€... para o que mostra não é caro, digamos que fica no meio e trama outros tantos que vendem ao dobro com a mesma qualidade. 

O aroma é todo ele bem frutado, com a ameixa e amoras num tom maduro, as triviais notas de boa compota a fazer companhia e dando aquele travo doce e macio dos vinhos da planície, depois é toque fumado com baunilha, tabaco e floral. Na boca é arredondado, conjuga-se tudo de novo como no nariz, harmonioso no conjunto, tem boa presença e é saboroso e macio na passagem de boca, boa frescura a complementar uma prova agradável e de boa persistência. É daqueles vinhos que se compra quando há um jantar mais xpto lá por casa e não se quer gastar muito em vinho mas também não se quer beber uma coisa banal do dia a dia... o casamento será sempre feliz com a tradicional gastronomia Alentejana, neste caso lembrei-me de imediato de umas Migas à Alentejana com carne de alguidar. Até acho que a acidez do vinho e a estrutura que mostra, são mais que suficientes para acompanhar de forma adequada tanto as migas como os migos... a nota final sobe meio valor tendo em conta a boa relação preço/qualidade apresentada. 90 pts

10 março 2012

Pragmático branco 2009


Um breve escrito sobre um vinho que me disse pouco, da gama pessoal do enólogo este é o entrada de gama. De início estava à espera de algo um pouco melhor, mais arrumado e atraente, mas pela maneira demasiadamente atabalhoada que o torna até tolinho, simplesmente quando o provei não me transmitiu grande prazer, fiquei indiferente e acabei por deixar a garrafa na mesa caso alguém o quisesse provar. Afinal não há obrigatoriedade de se agradar a todos quando se faz um vinho, não há a mesma obrigatoriedade quando se prova de se gostar... e este não me convenceu.

O vinho é um branco do Douro, feito pelo Luis Soares Duarte, enólogo que costumo atinar com os vinhos que produz, este Pragmático mostra-se ou pretende-se mostrar mais moderno, talvez para um consumidor alvo jovem e urbano, o boneco até está bem esgalhado mas o vinho deixa algo a desejar, muito em evidência o travo herbáceo que ao lado do mineral e de um toque de limão mete o conjunto demasiadamente amargoso para o meu gosto, a meu ver desequilibrado. É um aroma que mistura espargos verdes com limão e o cheiro das pedras do rio ainda molhadas... quase que dá a sensação de metálico e um pouco pesado.
Na boca pouco melhora mas continua na mesma toada de mostrar o pouco que tem bem amontoado sem grande definição, continuo a olhar para o rótulo e achar pesado demais para a garrafa que é e para o vinho em questão... não joga a bota com a perdigota, questão de gostos. 84 pts

08 março 2012

Alves de Sousa Reserva Pessoal branco 2004

Mais um branco a saltar para o copo, mais um dos meus favoritos desde sempre e que brilhantemente se impõe pela diferença, qualidade e perfil, neste caso o preço ajuda pois ronda os 18€. O Alves de Sousa Reserva Pessoal branco é um vinho diferente e muito especial, ao mesmo tempo desafiante e complicado para o apreciador mais incauto, não é vinho para todos pois não... é para aqueles que lhe sabem dar o valor imenso que tem e deixemos as pieguices de lado. Como dizia um amigo meu, é complicado explicar a grandiosidade deste branco por palavras, só provando se chega lá, menos complicado foi o encontrar parelha à mesa para o dito cujo. Neste caso e devido à complexidade aliada a uma boa dose de frescura não perdi muito tempo a pensar, é vinho para o Mar, bichos do mar com e sem casca, batata, cebola, salsa, caldo, redução, cozinhado lentamente para apurar o gosto, aquele toque de açafrão num misto de aromas e sabores que se conjuga "ao meu gosto" de forma genial com este branco, sim falo da caldeirada piscatória da zona Francesa de Provence, a belíssima Bouillabaisse que acompanhou a preceito este branco sério e estranhamente complexo.Curiosamente notei neste um pequeno afinar do estilo, mostrando um pouquinho menos aquilo que já foi noutras colheitas, o de 2005 mudou ainda mais, embora a filosofia por detrás seja a mesma há aqui um notório afinar da maquinaria.

Apresenta-se com 12,5%Vol., foi decantado uma hora antes e servido a uma temperatura que variou entre os 12ºC e os 14ºC , marca de imediato pela diferença pela tonalidade com laivos laranja que apresenta, não é tão "assustador" como por exemplo nas suas primeiras edições e até tem vindo a mudar essa sua faceta, mais adulto, mais afinado, direi que o fato cada vez lhe assenta melhor. Tudo começa num lote proveniente de vinhas velhas, adaptadas ao terroir, sem necessidades de estrangeirismos para se afirmarem, passa por madeira e depois deixa-se adormecer até chegar à nossa mesa, desmarca-se pela mesma diferença com que nos brinda no nariz, aromas frescos, limpos e fluídos, nada atabalhoado, flores amarelas bem vivas (azedas), aromas de infusão de flores, fruta amarela, tropical e citrinos, alguma laranja cristalizada com resinas a fazerem lembrar por algum instante um leve travo balsâmico e no fundo uma boa dose de mineralidade, a madeira pouco se dá por ela, contribui para suster o conjunto, arredondado sem nunca perder a frescura que é basilar no conjunto. Na boca é essa mesma frescura que guia durante toda a passagem, sente-se untuoso, fresco, carnudo, muito complexo e com boa amplitude, enche de sensações e sabores, fruto fresco e maduro em conjunto com algum fruto em calda, flores, mineral... a meio do palato um pouco de mel, depois é um prolongar de sensações durante largos segundos. Um autêntico rendilhado de sensações... 93 pts

03 março 2012

Vértice Grande Reserva branco 2009

A poucos dias de organizar uma prova que vai dar que falar, focada nos  grandes vinhos brancos de Portugal & Espanha, onde apenas constam exemplares exclusivamente feitos com castas autóctones que representem condignamente a região onde são produzidos... um autêntico desatino enófilo atendendo à qualidade dos líquidos e do painel de 10 provadores. É com o pensamento nessa prova que agora destaco o Vértice Grande Reserva 2009, aquele que é um dos grandes vinhos brancos feitos em Portugal, um Duriense de gema das Caves Transmontanas. O lote reinante é bem nosso, reinam a Viosinho e o Gouveio, a produção ronda as 4.000 unidades com o estágio  de 12 meses em barricas novas e usadas. Dando seguimento à "cousa" é de salientar que escolhi para acompanhar, casar, harmonizar, ligar, o que quiserem chamar... com este vinho um pargo no forno rodeado por batatas, tomate e cebola, tudo regado com azeite. Apenas lhe "botei" uma mistura de ervas de cheiro no bucho para perfumar ligeiramente a carne do dito. 

O preço não se pode dizer que é barato, outros custam o dobro e rendem o mesmo ou até menos, mas também não se torna caro atendendo à qualidade. Este Vértice compra-se facilmente por 15/17€ em garrafeira e vale bem o preço que pedem. A prova que dá é bastante coesa e com elevado nível qualitativo, amplo, expressivo no nariz, arredondamento conferido pela madeira com leve tosta bem integrada, muita frescura sentida com a fruta madura de variada qualidade, laranja, ananás, melão e uma mineralidade muito interessante de fundo. Na boca entra saboroso, fruta presente com vigor e corpo arredondado, nas pontas mostra uma acidez citrina muito interessante, presente em toda a passagem de boca, a mineralidade funde-se com um leve especiado no final de boca de boa persistência. Um branco de grande nível que não mostra aquela versão de branco do Douro mais austera e mineral, menos raçudo e mais dado ao convívio. Aqui o conjunto é mais anafado, ganha mais peso mas ao mesmo tempo é saboroso e com frescura a embalar o conjunto... diferenças à parte a qualidade está lá, o prazer que proporciona faz esquecer as pedantices enófilas do "...ai não gosto porque não representa a região...". 92 pts

Preta 2007

Sem muita demora, a conversa começou mais ou menos na altura em que me apeteceu fazer um hambúrguer de novilho na chapa, daqueles com dois dedos de altura, a ficar mal passado com o toque da flor de sal a seu tempo, depois a cebola caramelizada com leve balsâmico, fatia fina de tomate raff previamente temperado com azeite e a boa fatia de queijo Boffard (adoro) a derreter por cima da carne. Nesta minha improvisada versão "gourmet" de hambúrguer queria ter ao mesmo tempo um bom vinho, daqueles que sendo muito bons não precisamos estar de roda do copo a cheirar uma e outra vez, porque já sabemos com o que podemos contar e porque é apenas para beber e não para estar com o caderninho de apontamentos ao lado, o vinho é feito para ser bebido e este não falha nem me falha. A sua consistência é de bater palmas, sempre em muito boa forma seja qual for o ano de colheita.

O aroma firme e complexo que o Preta 2007, da Fita Preta Vinhos, debita no copo é de se tirar o chapéu, não é um aroma impositivo nem austero, não, é um aroma envolvente, muito Alentejano na maneira de ser. Com a fruta preta gorda e madura, no pingo da doçura com  compota de amoras e mirtilos, mas com boa frescura e toque floral. A barrica por onde passou segurou-lhe a alma, refinou-lhe o espírito, especiado com pimenta preta em destaque, fumo e chocolate preto. Na boca mostra-se amplo, denso, fresco, boa presença com passagem descomplicada, muito pronto a beber, especiado e harmonioso, sente-se vigor da fruta que quase se mastiga, profundidade e boa persistência final. O lote composto por Touriga Nacional (50%) Alicante Bouschet (35%) e Cabernet Sauvignon (15%) num vinho que com um tempo de cave ganha um refinamento da sua complexidade muito bom. Ligou bem com o dito cujo "hamburguer" uma vez que a carne grelhada com sabor intenso, notas de fumo, especiaria, a força do queijo e a gulodice da fruta a ligar com a cebola caramelizada, ligou tudo muito bem com o frescura, sabores e estrutura do vinho. 92 pts

01 março 2012

Periquita branco 2011

Os brancos de 2011 começam a aparecer no mercado a bom ritmo, recentemente chegou-me este Periquita branco 2011. Para acompanhar este lançamento da José Maria da Fonseca optei por uma salada, o vinho não pede coisas muito elaboradas, peguei em miolo de camarão saltitei em azeite, molho de tomate e alho finamente picado,  deixei caramelizar a baixa temperatura e retirei, juntei com alface, fio de azeite, ananás, molho cocktail e alguns coentros picados. Tudo a ligar  bem com o vinho, o toque caramelizado do miolo de camarão com a frescura do ananás e respectiva acidez, boa a combinação entre os coentros e o toque mais cheiroso do vinho. Para os menos informados a marca Periquita nasceu na Cova da Periquita, foi  registada em 1940 e é nos dias de hoje a mais antiga marca de vinho de mesa em Portugal. Uma marca que vingou como tinto e que os tempos modernos fizeram com que trabalhe já a 3 côres: tinto, branco e rosado, é este o preço a pagar pelos tempos modernos, saudosas garrafas borgonhesas, agora é tudo mais fino, mais delicado e virado para um consumidor  moderno, citadino e farto de brincar aos clássicos, por mim nada contra.

No copo surge um vinho fresco e aromático, Moscatel de Setúbal,Viognier,Verdelho e Viosinho... carregado de exotismo e que antes de ir para a garrafa só conheceu o frio do inox. Jovem e fresquinho, cheiroso e airoso, a tranbordar a água de colónia. O que mais se destaca é o lado frutado, fruta madura e fresca, citrinos ,muita lima limão, laranja, exótico com tropicalidade da banana e do ananás, flores frescas com boa exuberância. Na boca é fresco, mostra energia e vida com a fruta a estalar no palato, sem exageros e mediano na presença... boa acidez com mediano final de boca. Tem tudo no sítio, certinho e direitinho a mostrar aquele toque de diferença que o torna apelativo. Direi mesmo que fica complicado não lhe ficar indiferente mesmo que a sua candura e simplicidade lhe retirem asas para outros andamentos... mostrou-se no entando melhor que na anterior colheita, o preço mais que recomendado fica-se nos 3,99€ em grande superfície comercial. Vinho de Verão, de Esplanada... vinho descontraído, beba-se pois então.  88 pts
 
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