Copo de 3: abril 2012

26 abril 2012

Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2007


No mundo do vinho há casos em que só muito dificilmente não gostamos do que temos no copo... o vinho de que vou falar é um desses casos. Nascido na Quinta do Crasto, o Reserva feito de Vinhas Velhas é um sucesso, a sua produção ultrapassa a centena de milhar, o preço tem sido quase uma constante e bem comprado rondará os 20-25€, valor correto. O vinho em si é todo ele bastante apelativo, pode ser alarmante a facilidade com que cativa os mais incautos e "batidos" nisto das marcas e dos nomes... mas consegue, tem carisma o malandro, charme na goela pela maneira como graceja com a gente. Com o Douro na alma, mostra na sua atitude já os tiques sofisticados da nova era, vinho mais universal e com capacidade de falar outras línguas... perdeu o sotaque, ganhou em visibilidade. É inconfundível e transformou colheita após colheita numa pedra firme no que a qualidade e acima de tudo, consistência diz respeito  e que Portugal tem para oferecer dentro e fora de portas.

É com um bom conjunto de aromas a mostrar frescura e complexidade, que nos cumprimenta inicialmente causando imediata empatia com fruta rechonchuda e limpa, madura e fresca, depois a madeira bem integrada a dar todo o amparo. Mais morno no segundo plano, especiaria doce, alguma compota e a sensação de volume e arredondamento, baunilha, chocolate de leite, debita boa quantidade de esteva e violetas, tudo bem acomodado. Embora a complexidade seja satisfatória não atinge um nível de elevada performance, não será vinho de grande guarda ou de grandes tiradas uma vez que lhe falta mais nervura para tal.  Na fruta todo ele com boa estrutura, médio corpo, fruta redonda e madura, suculento, especiaria com pimenta preta, muito boa espacialidade a preencher bem o palato com harmonia e macieza, conseguindo mostrar algum  peso e frescura. Final de boca de média persistência com rasgos de mineralidade, todo ele bem composto a dar uma prova de qualidade acima da média. 92 pts

24 abril 2012

Quinta da Leda 2007


Distante deste infernal teclado vou derrubando algumas garrafas, rebuscando na memória aqueles bons momentos que passaram e onde por vezes gostaria de voltar a estar, locais que já não há com gente que já não está, o vinho dá para isto e para tanta coisa, também dá para parar, pensar... sonhar. 


Um desses vinhos do qual gosto muito é o Quinta da Leda (Casa Ferreirinha), vinho que nasce no berço dourado do Barca Velha, a Quinta da Leda, feito com um lote de castas tradicionais do Douro,  Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. No Leda sempre lhe encontrei mais pujança e maturação que nos irmãos mais velhos, clássicos abastados (Reserva Especial e Barca Velha), mostrando-se nesta ordem mais vinho que o seu primo Callabriga. O Quinta da Leda  nasceu lá para o ano de 1995, recordo nos meus inícios de enofilia os seus belíssimos lançamentos versão Touriga Nacional, pejados de pujança e estrutura, cheirosos e raçudos que nos dias de hoje e em condições deslumbram uma mesa. Tive o prazer de acompanhar o crescimento desta marca com alguma atenção e insistência nas suas provas, terei falhado eventualmente algumas colheitas, mas recordo com alegria o 1999, 2001 e mais para a frente o 2003. Entretanto a mudança de rótulo e garrafa afastou-me do vinho, quase por birra enófila de ver desconstruir algo de que se gosta... voltei a ele na colheita 2007, dos que já bebi até hoje não andará muito longe de ser o que mais me preencheu as medidas, encontrei no 2007 um Leda adulto, raçudo, com força e sabedoria no trato, um vinho muito bonito cheio de frescura, fruta, estrutura e todo ele muito Douro para estar e durar... sim este é dos que duram.

Perfil a que gosto de chamar clássico moderno do Douro, mostrou-se em excelente fase da sua longa vida com vigor e boa dose de esteva e as ervas de cheiro do campo, as ditas cujas violetas da Touriga logo de inicio, fumo, vai crescendo com tempo no copo, muito  bom na sua complexidade e compostura, notável densidade de aromas quase que por camadas de boa espessura. Fruta escura em modo bagas e pomar com cereja, ameixa, bem fresca e sumarenta, compota ligeira, bálsamo pelo meio a dar lugar a especiaria, chá preto, tabaco em segundo plano. Boca ainda com ligeira secura dada por taninos presentes mas sociáveis, aquela austeridade que lhe assenta bem e lhe permite ter garra para acompanhar pratos mais elaborados, todo ele a começar a mostrar e bem grande elegância de conjunto e mesmo harmonia com a prova de nariz, bom preenchimento do palato com bom volume e frescura, profundidade assinalável com a fruta madura e fresca a fazer-se sentir, vegetal, especiaria e final de boca com persistência média/alta. O preço longe de ser escandaloso rondará quase sempre a casa dos 30€... a meu ver bem merecido para o vinho que é e continuará a ser durante uns bons anos. 94 pts

17 abril 2012

Quinta das Carrafouchas 2008


A Quinta das Carrafouchas está situada em Loures, mais propriamente em A-das-Lebres e se o conhecimento da sua existência é pouco, o saber que ali se produz vinho ainda é menor. No meu caso não faz muito tempo que fiquei a conhecer esta Quinta, os vinhos já os tinha abordado anteriormente via mão do enólogo Hugo Mendes, também o responsável pelos vinhos da Quinta da Murta. Ali nas Carrafouchas o vinho é levado como um projeto intimista e apaixonado, minimalista e com veia tradicional, sem base em projetos mirabolantes ou enologias de ponta... é vinho simples, bem feito, apontado diretamente para a mesa e para um agradar fácil sem no entanto se tornar enfadonho ou demasiadamente óbvio, é disto que o consumidor procura...

O tinto em prova da colheita 2008, Touriga Nacional com Aragonês, mostrou-se antes de tudo em muito boa forma, mediano na intensidade aromática com frutos do bosque a mostrar qualidade mas também um toque adocicado sem exagero e que se enquadra bem com a boa frescura que o vinho tem. Por momentos cheira a canela, baunilha, algum toque de caramelo com vegetal/floral em fundo. Boca com corpo médio, boa acidez que lhe confere frescura de bom nível, fruta a fazer um bom balanço entre a prova de nariz e a prova de boca. Saboroso e com boa estrutura, sentem-se os taninos ainda que de mansinho, harmonioso e com boa passagem no palato. Nunca caindo em facilitismos embora dentro da sua aparente simplicidade mostra-se mais sério do que parece, em final de boca de persistência média.

O preço mostra-se adequado, ronda os 5.50€ para um vinho que dá uma boa prova de si, não sendo apenas mais um tem na personalidade o suficiente para se demarcar dos restantes, muito virado para ser bebido à mesa a acompanhar pratos de bom tempero, mostrou que tem estrutura suficiente para tal. O produtor tem ainda um branco de igual qualidade que também merece ser bebido e conhecido, estando ainda no segredo do proprietário um novo lançamento. 90 pts.

16 abril 2012

Gravato Vinhas Velhas 2008


Luís Schepers Roboredo, produtor da marca Gravato, lançou no mercado mais uma novidade, depois de ter ressuscitado o Palhete e do sucesso que alcançou com o seu Touriga Nacional, vem também ele da Beira Interior um  tinto de Vinhas Velhas com tudo misturado... castas brancas e tintas onde entre a rebaldaria das vinhas com mais 60 anos, nos surgem a Rufete e a Síria Velha (Códega do Larinho). O vinho invoca memórias de outros tempos, precisamente porque as vinhas eram por vezes essa tal rebaldaria de brancas e tintas misturadas... este saiu como tinha de ser, saiu com a vontade de relembrar como outros no antigamente terão saído... 

O vinho apenas sentiu a frieza do inox, durante 2 anos diga-se, só lhe fez bem, amaciou e acertou tudo para que quando for levado ao copo o resultado seja o esperado, pinga pronta para ir à mesa em boa companhia. Neste caso não é vinho com grandes segredos de complexidades muito rendilhadas ou rebuscadas, aqui o segredo são aqueles 5% de Síria Velha, são os solos onde as vinhas estão situadas, é a saudável teimosia de um produtor em fazer vinho à moda de outros tempos. Neste caso e mais uma vez com a sua dose de interesse, não deslumbra mas mostra-se muito correto, todo ele direto e simples,  muita fruta vermelha e ácida, quase que com travo verdasco pelo meio, talos verdes acabados de cortar, depois floral e mineralidade em fundo conferindo alguma austeridade no conjunto. No bom volume de boca, não chega a ser pesado, é harmonioso e de trato leve e fresco... Tinto Fresco para ser servido fresco, tinto para ir à mesa e beber descontraidamente, grelhada mista em tempo quente no terraço com os amigos. 89 pts

15 abril 2012

Cedro do Noval 2007


Volto aos vinhos do Douro, volto aos vinhos de mesa deste mítico produtor de Vinho do Porto, a Quinta do Noval, desta vez por mais uma excelente razão, o Cedro do Noval da colheita de 2007. Este é o segundo vinho, logo abaixo do vinho com nome da Quinta, o Quinta do Noval, o Cedro é vinho que perdeu o DOC para passar a ser Regional Duriense, a razão é a  casta Syrah ter sido incluída no lote a 35% mais Touriga Nacional, Touriga Franga e Tinto Cão. Vão nadar em  carvalho francês durante 18 meses até que ficam na clausura da garrafa e pronto a ser consumido ou guardado.

A qualidade está mais que patente, janela escancarada para um Douro com toques de clássico, duro e austero mas ao mesmo tempo um Douro carismático e charmoso, mais moderno e sedutor onde a frescura lhe enche a alma. No seu bonito toque de modernidade, fruta escura muito madura, limpa e pura, cereja e groselha, carregado de especiaria e mineralidade, madeira a caminho do ponto certo (está quase) com os seus contributos de qualidade acima da média, fumado, cacau e leve tabaco. Vinho cheio, profundo, um gozo a cheirar e a rodopiar no copo, por entre o rendilhado da fina e bem composta rede de aromas, uma nota de bálsamo... ali mesmo dos Cedros da Noval. Leve-se à boca para na sua entrada com fruta cheia de força e energia, um vinho cheio, que mostra vigor e garra, ao mesmo tempo um embalo prazenteiro, leve ponta de geleia pelo meio, alguma ameixa mais tocada, um vinho que na companhia de um cabrito no forno nos delicia. Vai buscar a ligação com as ervas e as especiarias, a acidez controla a gordura do assado. Vem refinando com o tempo, todo ele muito aperaltado e envolvente, passagem de boca com harmonia, alguns taninos ainda presentes em final médio/longo, mostrando-se um excelente vinho para a qualidade e preço apresentado, relembro que o preço ronda os 15€ tornando a compra bem apetecível. Mais aberto e dialogante que o seu irmão mais velho, não deixa de ser aquilo que é... um belíssimo vinho do Douro. 93 pts

14 abril 2012

Fiuza 3 Castas e 1 Sauvignon 2011

São os brancos mais recentes da Fiuza no mercado, o Sauvignon Blanc e o 3Castas, vinhos de 2011 a cheirar a novo, frutados e prontos para o dia a dia. São na sua essência vinhos formatados para um consumidor que procura vinho bem feito, que saiba bem e acompanhe de igual modo a refeição, vinhos corretos. 

Começo por destacar a qualidade que se destacou um pouco acima das colheitas que já tinha provado, por falar naquele que mais gostei, o Fiuza 3 Castas 2011 onde a combinação de Chardonnay, Arinto e Vital embrulha todo um conjunto de  preço acessível a rondar os 3.50€ que se revela assente nos aromas primários, apesar de pouco expressivo mostra-se correto e sem grande complexidade, toque floral com fruta madura e um ligeiro rebuçado. Na boca a mostrar frescura, passagem suave sem grandes atropelos onde a fruta marca presença em final mediano. É um vinho firme e hirto, quase recto, simplex mas catita, não complica, não é tão forçado como o outro e por tudo isto mostra-se ligeiramente mais genuíno86 pts

No outro copo tinha o Sauvignon Blanc 2011, vinho que mais uma vez não me enche as medidas e que pessoalmente não lhe vejo grande mais valia ou sequer piada... beba-se apenas como branco que é. O preço é mais elevado e sobe para uns 4.50€ sem que o seu comportamento durante a prova o consiga justificar. Vinho correto, simples e que se resume de forma simples a uma presença ligeira de fruta fresca e madura com leve herbáceo, cumpre se servido fresco e sem pensar muito no que se tem no copo... 84 pts

 
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