Copo de 3: março 2016

31 março 2016

Marquês de Borba branco 2015

É a mais recente colheita deste branco oriundo do produtor João Portugal Ramos, cujo vinho dispensará grandes apresentações. Bem conhecido pelos consumidores é feito com as castas Arinto, Antão Vaz e Viognier. Tem vindo nas últimas colheitas a perder aquele lado mais "duro" mostrando consistência num perfil mais fácil e escorreito, quanto a mim gostava mais daquilo que foi no início. Agora vejo-o por vezes a disputar o lugar no copo com o Loios, vinho que pelo preço/satisfação escolho em detrimento deste. Não deixa por isso de ser um vinho agradável e fresco, centrado nos aromas da fruta fresca e madura, ligeiro floral com passagem pelo palato de mediana presença. Não encanta mas também não desilude, mostrando-se fiel ao compromisso por um preço que ronda os 5€. 89 pts

30 março 2016

Soalheiro Alvarinho 2015


Um vinho incontornável este Soalheiro Alvarinho, aqui na colheita de 2015 que quanto a mim se mostra melhor que por exemplo na anterior (ver aqui), noto aqui mais frescura com a fruta menos exposta aos descritores de fruta tropical e assentes numa vertente mais citrina, com a mesma a surgir menos madura e mais airosa. Quanto ao resto é o perfil Soalheiro a funcionar onde os descritores da casta aparecem num conjunto que conquista no imediato pelos aromas limpos e bem definidos, boa intensidade de conjunto a mostrar-se tenso, muito fresco e com austeridade mineral em pano de fundo. A fruta (maracujá, líchia, citrinos) funde-se com notas florais, uma muito ligeira e fina colherada de mel a fazer toda a ligação e que se equilibra muito bem com a acidez do vinho. Beba-se desde já com uns camarões tigre grelhados ou então que se guarde por dois anos para se ter uma agradável surpresa. 93 pts

Adega de Borba Rosé 2015


Acabado de chegar ao mercado a nova colheita deste rosé bem fresco e frutado da Adega de Borba. No perfil tem tudo para agradar mostrando um ligeiro toque guloso sem exagero que o torna apetecível e sabe bem. Com toda a atenção centrada na frescura da fruta vermelha, com muito morango gordo e rechonchudo acompanhado por amoras, mostra-se fresco e com boa exuberância de aromas. Na boca replica a prova de nariz, envolto por uma sensação de leve doçura, é essencialmente a expressão bonita da fruta que se faz sentir sempre com uma boa frescura. Um vinho directo e descontraído que servido fresco será companheiro de inúmeras ocasiões no aperto do calor que se aproxima. 88 pts

29 março 2016

Soalheiro ALLO 2015

Começam a chegar os brancos de 2015, uma colheita considerada de excelência pelo próprio produtor da Quinta de Soalheiro. Neste caso são os mais jovens do alinhamento, começando pelo Soalheiro ALLO 2015 que resulta de um lote 50/50 de Alvarinho e Loureiro. Desta junção nasce um branco cheio de aromas que invocam fruta e flores frescas, vibrante, muito perfumado e ao mesmo tempo leve e divertido, num vinho que mal damos conta e a garrafa já acabou. É daqueles brancos que apetece ter à mesa num final de tarde em pleno Verão a acompanhar uns canapés ou mariscos de concha ao natural. Pode-se comprar por um preço a rondar os 5,50€ em garrafeira. 90 pts

Alambre Moscatel Roxo 2010


A última novidade a ser lançada pela José Maria da Fonseca no que a Moscatel diz respeito foi este Alambre Moscatel Roxo 2010. Um Moscatel Roxo de entrada de gama a permitir o acesso a um público mais alargado (custa 12,49€ em grande superficie comercial) uma vez que os generosos feitos a partir desta casa são por regra mais caros que os restantes. Assim resolveu-se apresentar um Moscatel Roxo mais jovem e moderno, fresco, directo e sem toda a complexidade e mesmo densidade que por exemplo um Roxo 20 Anos nos apresenta. É um vinho com a qualidade que o produtor em causa já nos acostumou, mas que se bebe de forma descontraída em fim de tarde no terraço com os amigos. E esta abordagem mais directa faz falta porque nem tudo na vida tem de ser encarado de fato e gravata, em tom formal porque o vinho que nos deitam no copo assim o exige. Por aqui e neste caso com o Alambre Moscatel Roxo 2010 vive-se um clima festivo, num conjunto que da maneira como se mostra convida a isso mesmo, fresco, apelativo, conjuga o trio doçura/acidez/concentração de tal forma que se torna um sucesso imediato à mesa. 91 pts

22 março 2016

Tinto da Talha Grande Escolha 2003 a 2010



Desta vez rumo à vila de Redondo, mais propriamente à Roquevale que fica na estrada para Estremoz entre Redondo e a Serra D´Ossa. A empresa possui duas herdades num total de 185 hectares, a Herdade da Madeira Nova de Cima vocacionada para a produção de tintos onde despontam os solos de xisto e a Herdade do Monte Branco com solos de origem granítica mais vocacionada para a produção de brancos, onde está sediada a adega. A empresa que hoje se assume como a segunda maior empresa privada do Alentejo, a produção ronda os 3 milhões de litros por ano e é liderada pela enóloga Joana Roque do Vale.

O mundo do vinho e Joana Roque do Vale sempre andaram de mão dada, desde a infância em Torres Vedras onde os seus bisavôs eram produtores. Após a revolução de Abril o pai de Joana, Carlos Roque do Vale decide mudar-se para a vila de Redondo para tomar conta das duas herdades do sogro (que em 1970 já tinha iniciado a plantação de vinha na zona de Redondo). A Roquevale iria nascer em 1983 de uma sociedade entre Carlos Roque do Vale e o seu sogro. O caminho de Joana estava traçado, o mundo do vinho era a sua segunda casa, daí até fazer o seu estágio curricular na Herdade do Esporão foi um ápice. Aprendeu com os melhores, como coordenador de estágio teve o engenheiro Francisco Colaço do Rosário e o enólogo Luís Duarte que já na altura era também consultor da Roquevale. Terminado o curso começou a trabalhar na empresa da família onde iria assumir pouco tempo depois a enologia da empresa.

Um produtor com marcas bem conhecidas dos consumidores onde se destacam nomes como Terras de Xisto, Tinto da Talha ou Redondo. O vinho agora em destaque foi durante largos anos considerado como o topo de gama da empresa, o Tinto da Talha Grande Escolha que nos mostra as duas melhores castas de cada colheita. A prova em formato vertical começou com o 2003 e foi até ao 2010, mostrando em todas as colheitas um vinho que encarou com naturalidade a passagem do tempo, sem sinais de desgaste ou velhice acentuada. Sempre com direito a passagem por barricas novas, durante as primeiras colheitas destaca-se a assídua presença da Touriga Nacional que ia intercalando com Aragones ou Syrah, daria lugar depois à Alicante Bouschet que combina com Syrah ou Aragones sendo 2009 o único que junta Touriga Nacional com Alicante Bouschet.



O que mais gostei foi o 2010 Aragonês/Touriga Nacional que mostra uma dupla em perfeita harmonia num conjunto cheio de vida com muita fruta madura, algum vegetal presente, tudo em perfeita harmonia. Amplo, guloso, exuberante com ponta de rusticidade, num bom registo fiel à região e a pedir comida por perto. Muito bom está o Aragonês/Alicante Bouschet 2008 que mostra um conjunto cheio e guloso, cacau, fruta sumarenta com pingo de doçura, tudo balanceado e fresco, bálsamo de segundo plano com muito sabor no palato, equilibrado e com taninos a marcarem ligeiramente o final. Seguido bem de perto pelo 2003 junta Touriga Nacional/Aragonês que sendo a primeira colheita mostrou-se em muito boa forma a juntar a uma fruta vermelha ainda madura uma bonita frescura de conjunto com bálsamo fino, couro, especiarias, tudo em corpo médio ainda com energia e final longo. O Tinto da Talha Grande Escolha 2009 junta Touriga Nacional/Alicante Bouschet, inicio com vegetal fresco e fruta madura e de apontamento mais doce, de início algum químico, tudo muito novo cheio de garra e bastante sabor, boa frescura mas final um pouco mais curto do que se esperava.

O Aragonês/Syrah 2007 é de todos aquele que menos conversa, cerrado com aroma químico de início, cacau, pimenta, fruta envolta em geleia, frescura a envolver tudo com boca saborosa, rebuçado de morango em fundo com balsâmico num conjunto bem estruturado com bom suporte e persistência. Um vinho com muito ainda para dar e que certamente está em fase de arrumações. Da colheita 2004 Syrah com Touriga Nacional saiu um tinto com fruta vigorosa, muita pimenta com chocolate de leite, arredondado e coeso, ligeiro vegetal de fundo. Mostra a fruta bem limpa e saborosa, cereja ácida, amora, bom de se gostar. Para o fim ficaram as colheitas 2005 Touriga Nacional/Aragonês que se mostrou de todos o vinho mais aberto e espaçado, tímido mas a mostrar o cunho Roquevale bem patente. Muito melhor na prova de boca, que se fosse de igual gabarito no nariz, seria um caso muito sério. Por fim o que menos gostei, o Syrah/Touriga Nacional 2006 que despejou no copo aromas químicos com vegetal acentuado, num conjunto agreste, muita nota fumada, rusticidade a fazer-se sentir. Ligeira frescura na boca com alguma fruta em corpo mediano e sem ter a mesma prestação que os outros irmãos de armas.

15 março 2016

Margarida 2010

Da vontade de criar algo seu, Margarida Cabaço entendeu dar o seu nome ao "seu" vinho, sem esquecer que é também o rosto dos vinhos Monte dos Cabaços (Estremoz). Esta gama que se assume como Especial mostra em tom de branco e de tinto o que de melhor o ano deu, ou se quisermos o que Margarida mais gostou. E é dentro deste lema que surge este Margarida tinto da colheita de 2010, preço a rondar os 18€, onde brilha a casta Alicante Bouschet. Um vinho sem pressas, nem se importa ele nem nos importamos nós com todo o tempo que passou e esperou até nos chegar ao copo, desde a passagem pela madeira e posteriormente pela garrafa o vinho só sai quando se acha que deve sair. Disto isto e sem que por isso fique beliscado, os vinhos do Monte dos Cabaços já deram provas que a passagem do tempo para eles é algo natural a ver pela boa evolução que costumam mostrar. Este tal como as colheitas anteriores mostra-se de peito cheio, muita fruta sumarenta, denso, carga vegetal a meio do percurso com leve tosta, sensação de alguma grafite em conjunto com bastante frescura, no caminho da elegância embora com corpo para durar largos anos em garrafa. 93 pts

14 março 2016

Quinta de São Lourenço 2011


Das Caves São Domingos (Bairrada) chega este tinto Quinta de São Lourenço 2011, custou 8,90€ este vinho que escolhi para casar com um cozido de grão. Nem sempre é fácil e muitas vezes a ligação entre vinho/comida acaba por ser sofrível o que não foi o que aconteceu neste caso. Procurava um tinto com boa acidez/frescura capaz de lidar com a gordura das carnes, queria também vinho cuja estrutura não se deixasse dominar pelo poderio do prato ao mesmo tempo que iria combinar com todo o perfume que um cozido de grão acompanhado de hortelã nos coloca no prato. Neste caso o vinho que combina Baga com alguma Touriga Nacional, também ligou na perfeição com as notas da fruta bem ácida e suculenta, algum cacau, toque balsâmico que invoca hortelã e pinheiro, frutos silvestres maduros e tudo envolto em boa frescura num conjunto muito apelativo. Porém o essencial que convém sempre focar, é que o vinho convide a mais um trago e mais uma garfada porque nos sabe bem. E neste caso resultou em cheio. 90 pts

10 março 2016

Azinhaga de Ouro branco 2014

A aposta em vinhos que são engarrafados em exclusividade para as cadeias de hipermercados parece ter renascido num curto espaço de tempo, são cada vez mais os rótulos que surgem nas prateleiras fruto dessas parcerias entre produtor/hipermercado. Aliando a tudo isto nota-se uma clara aposta em levar estes mesmos vinhos a concurso para mostrar ao consumidor que ali mora qualidade a um preço bastante competitivo. O vinho que se segue é disso exemplo, falado e badalado pela imbatível preço a que é colocado nas prateleiras do Lidl, a menos de 2€ a garrafa. Produzido no Douro pela Caves do Monte a partir das castas Malvasia Fina, Rabigato e Viosinho. Todo ele simples e bastante directo, cheio de fruta e aromas florais embalados num conjunto com frescura, mediana concentração tal como final de boca. Destaca-se por aquilo que mostra tendo em conta aquilo que custa, bebido fresco em modo esplanada ou terraço ao final da tarde com os mais variados petiscos,  será certamente para todos aqueles que não se podem esticar na carteira o vinho ideal. 86 pts

08 março 2016

Torais Reserva 2011

A Herdade de Torais (Alentejo) encontra-se localizada em pleno Alentejo, entre Montemor-o-Novo e Évora, tem uma área de cerca de 200 hectares e pertence à Sociedade Agrícola de Torais Lda. de que é sócio principal Fernando Pedro Pereira Coutinho. Este Reserva surge como o topo de gama da casa, um lote de Syrah, Alicante Bouschet e Aragonês, com direito a passagem por madeira e que resultou num lote final de 1500 garrafas. Gostei deste vinho pela forma séria como se mostrou no copo, carregado de fruta vermelha e preta muito madura, chocolate negro, aroma coeso e complexo com muita frescura. Fundo cheio de especiarias, a madeira completamente integrada num conjunto que mostra ainda alguma austeridade, passagem de boca a mostrar-se de corpo cheio e musculado, fruta a explodir de sabor sempre com a frescura muito presente. Um belo vinho que termina longo e persistente, cujo preço ronda os 20€ em garrafeira. 92 pts

02 março 2016

Frei João Reserva branco 2009

O vinho é das Caves São João (Bairrada), um Frei João Reserva em modo branco da colheita 2009, um vinho que quando foi colocado no mercado até pelo simpático preço se mostrou merecedor de louvores e chamadas de atenção deste ou daquele interlocutor mais esclarecido. O tempo foi passando, como sempre, teimei em guardar uma garrafa para memória futura na tentativa de ver o resultado. Durante esse tempo que foi passando vozes avisavam que o vinho estaria a perder virtudes, desgaste, sinais de uma morte anunciada. Pois chegou o tempo de abrir a última que por aqui morava e o resultado foi o ter encontrado um bom vinho mas com sinais evidentes de cansaço, a nível de aromas e mesmo de sabor. Apesar da frescura que ainda mostra ter, todo o conjunto se mostra seco e parco de vida, como que tolhido e triste. Por vezes tentamos esticar a corda e arriscamos na esperança de ter alguma surpresa, não foi o caso. 

01 março 2016

Monte dos Cabaços

Por vezes as decisões acertadas que tomamos na vida abrem os caminhos do sucesso, esta como muitas outras é uma história de sucesso. Tudo começou quando a jovem Margarida chegou a Estremoz, quis o destino que fosse ali encontrar o seu amor, Joaquim Cabaço, descendente da família Cabaço. Joaquim desde cedo aprendeu as artes do campo e da vinha, foi ele o responsável por plantar as actuais vinhas com a sua mulher Margarida em 1992. Na altura sem produção ou adega própria, toda a produção de uva era vendida a produtores da região, por outro lado era a paixão pela cozinha que iria levar a que em 1994 Margarida Cabaço inaugurasse um dos templos da cozinha Alentejana, o Restaurante São Rosas.

Apesar de toda a arte e mestria que Margarida coloca na sua cozinha, sentiu em determinado momento a necessidade de a complementar com algo mais, com algo que tivesse também o seu cunho, a sua mão. Nascia com a colheita de 2001 o projecto Monte dos Cabaços e as uvas que antes eram vendidas agora davam origem ao primeiro vinho do casal, curiosamente um Syrah produzido a partir de uma vinha com três anos. De um total de 130 hectares de vinha, entre uva branca e tinta, 55 ficaram para o projecto Monte dos Cabaços com os restantes a irem para o seu filho Tiago Cabaço. Hoje em dia a gama de vinhos cresceu e está mais composta, a enologia está a cargo da enóloga Susana Estéban mas cabe sempre a Margarida  a última palavra. O processo de escolha começa na vinha tal como o faz aos produtos que coloca no São Rosas, critério de qualidade sempre presente. Os melhores lotes têm direito a passar por barrica e quando se mostram de patamar superior vão para o Monte dos Cabaços Reserva. Quanto à gama de vinhos especiais de nome Margarida, os quais não irei abordar por agora, são vinhos elaborados com a melhor casta de cada colheita, da qual uma parte ajuda a complementar os lotes dos restantes vinhos. 

O primeiro branco nasceu em 2005, agora temos o Monte dos Cabaços Colheita Seleccionada branco 2013 em prova que junta as castas Antão Vaz, Arinto e Roupeiro, apenas com passagem por inox. A mostrar-se com fruta (citrinos, maçã) vigorosa e muito madura, folha verde de limoeiro e flores brancas num conjunto directo e franco mas onde se nota algum nervo. Na boca mostra-se algo tenso, equilíbrio entre a fruta madura e suculenta e a secura, todo ele fresco e com bom final. 89 pts

Nos tintos, o Monte dos Cabaços Colheita Seleccionada 2009 mostra-se muito centrado na fruta madura, muita baga e frutos do bosque, alguma ameixa, notas de chocolate preto, tabaco, pimenta preta, tudo fresco e com boa intensidade. Conjunto bem estruturado, passagem saborosa com frescura em final longo. Daqueles que não falha. 90 pts

Para último fica o Monte dos Cabaços Reserva 2008 feito de Touriga Nacional e Alicante Bouschet, com estágio em barrica. Um vinho atractivo e sério, com fruta preta muito madura envolvida em frescura e alguma geleia, boa harmonia de conjunto com notas de especiarias e uma muito boa concentração onde a barrica aparece muito bem integrada. Muito envolvente ao mesmo tempo que mostra nervo e garra, até alguma austeridade que se faz sentir em pano de fundo. Na boca é um festival de sensações que nos agarra ao copo com a fruta muito limpa a explodir de sabor, muita garra e frescura com estrutura firme que lhe garante longevidade e uma fantástica prestação à mesa. 93 pts

 
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